Sobre a Vertigem das Listas de certo modo é uma repetição, porque já em 26.10.2010 se abordou este tema. Mas agora a perspectiva é outra, e para quem quer lançar as Primeiras Luzes de um assunto basto complexo, é sempre preciso repetir. Tenham paciência, eternamente, todos os professores, porque ensinar nem sempre é fácil: há que insistir, rever, repetir, acrescentar! Sobretudo tornar os alunos pessoas curiosas. Depois, e como está no título, as nossas listas - seja como professor no Programa de uma Disciplina, ou como Projectista, claro - as listas têm que ser finitas. Porque a sua concretização tem que se fazer, cabendo a uma equipa e não apenas a uma pessoa.
Quando ensinámos Tecnologia de Materiais, por vezes - sobretudo nos últimos tempos, em que os alunos já não vinham minimamente preparados - era preciso, cada vez mais, ter bastante paciência. Os meios de que dispúnhamos eram limitados, em geral a indústria já estava a desaparecer. Por isso as visitas de estudo passaram a ser raras, e a capacidade (imaginativa) dos alunos para conseguirem acompanhar um discurso, durante cerca de 20 minutos, tornou-se cada vez mais difícil, para não dizer impossível. Valeram os slides que fizemos nas fábricas, filmes da televisão, das empresas de construção, catálogos e mostruários... Muito que deixou de existir, a pretexto da desmaterialização: "porque iria estar disponível para todos na Internet". Em parte está! Mas é tanta a informação disponível, à distância de um clic, que perdeu toda a importância que tinha (quando era um conjunto de conhecimentos a adquirir).
Se em 1976 tínhamos alunos ávidos por aprenderem; se eram respeitadores e sobretudo animados, permanentemente, eles próprios com iniciativas, nessa altura estávamos ainda muito longe do desinteresse que muito mais tarde os alunos passaram a patentear.
Durante mais do que uma década, que não vamos balizar, foi claro um grande empobrecimento*. Não para o professor, porque para quem ensina, cada dia é um novo dia, em que se progride: até a tentar ultrapassar as dificuldades dos alunos. Mas no conjunto do ensino, foi um período de decadência paulatina.
Voltemos às listas, começando pela base de que partimos. Como nós demos uma volta, no IADE de Lisboa, aos Apuntes de Construccion vindos de Madrid. Adaptação que foi logo aceite, e que vigorou perto de 20 anos: com actualizações e re-acertos que era imperioso fazer, ao medir o pulso às turmas.
Hoje dir-se-ia que esse trabalho que desenvolvemos, desde 1976 a 1978, foi o nosso primeiro «grande mestrado»: organizar as listas dos assuntos a ensinar aos alunos, para aprenderem o essencial, e para que quando projectassem o fizessem com um mínimo de bases. A saberem procurar e a filtrar os resultados encontrados: sabendo discernir os materiais com mais e menos qualidade, quer para os resultados a obter, quer, sobretudo, porque a composição final dos preços e custos, dependeria dessa qualidade.
Em suma, é um «Conta-me Como Foi» muito específico: da passagem do Programa do IADE espanhol e seu conteúdo - nos respectivos Apontamentos (ou Sebenta como diziam) - aos nossos programas a partir de 1976. Onde estão vários apontamentos que produzimos para os alunos, num tempo em que havia (quase) nada**. E por isso muito tinha que ser adaptado e traduzido, ou até feito de raiz.
Durante anos, não foi um acaso o facto dos alunos de arquitectura estudarem pelos apontamentos feitos para os alunos do IADE
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*Empobrecimento geral já tratado este ano, em 02 e 17 de Fevereiro, e também ao longo do ano 2011. Que preocupa o actual MEC, levando a uma vontade de retomar alguns Programas mais antigos.
**Haveria um "Faça Você Mesmo" das Selecções do Reader's Digest. Informações dispersas do LNEC e do Neufert; Frank Ching era quase desconhecido (pois estava a começar a produzir). Desde 1973, durante 10 anos assinámos o AJ - The Architect's Journal, da Architectural Press - que nos permitiu formar uma biblioteca técnica essencial: Handbooks como os Everyday Details, Timber Review, Lanscape In Concrete, Stone, AJ Metric Handbook, etc. Por detrás de todos, e a permitir uma visão global, tínhamos o Mitchell's Building Construction, de Alain Everett, Edições Batsford.