Não sei se é de todos os portugueses, ou só dos nossos alunos, mas tudo acontece, sempre, até à exaustão!?
Porque será que não pensam na hipótese de fazer de modo sustentável? Sobretudo quando se trata de explorar recursos, de pôr a render as «galinhas dos ovos de ouro»? Que as há, diga-se de passagem, e não precisam de ser exauridas...
Vem isto a propósito de um artigo que anteontem pudemos ler, com números que julgamos serem válidos, relativos ao número de fogos vazios em Portugal: 735.000!
Foi esta percepção de excesso - sobretudo a partir de 2001-2003* - que nos fez «desinvestir» na arquitectura; no modo como é habitual um arquitecto querer praticar a sua profissão: isto é, a projectar. Passando a tentar mover-me para a área do restauro, renovação e valorização do património. Aliás, no nosso CV constam várias referências que indicam esse movimento, desde o início dos anos 80. Não pensávamos que iria acontecer de uma forma teórica, já que temos um imenso fascínio pelo lado prático. Mas, de facto, e como se vê - é que temos, crescentemente, a noção da «chicotada psicológica»**, que o trabalho sobre Monserrate está a constituir - também se pode ser muito prático dentro da teoria.
Claro que a sociedade portuguesa está carente de projectos (que não de arquitectura, mas planeamento) - e eles serão "o pão para a boca" de todos nós. Que sejam inteligentes, que façam sentido, e venham a dinamizar um número considerável de pessoas. Sobretudo, que não se limitem a ser um arranque repleto de acções publicitárias e boas intenções, mas sem consequências. Que pensem na respectiva continuidade, i. e., considerando o apoio, a sustentabilidade, e a manutenção das obras e actividades que se lançam.
Num próximo post vamos ensaiar uma análise, numérica e quantitativa, relativamente ao imenso disparate que são 735.000 fogos vazios. E qual o valor percentual a que podem corresponder, dos 78 mil milhões de euros que a banca internacional nos estão a emprestar?
Riqueza que enterrámos e imobilizámos nos subúrbios das vilas e cidades, ... até à exaustão!
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*Em 2003, fui, expressamente, à Biblioteca do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra consultar um Tratado. Embora muitíssimo bem atendida, vim arrepiada com um número que lá ouvi: no Curso de Arquitectura, no 1º ano, ter-se-iam inscrito mais de 200 alunos. Ao passo que no 1º ano do Curso de Física só havia 3 alunos! Pensei (e dei conta desta preocupação a alguns...), que assim o país não iria a lado nenhum. A arquitectura ajuda a abrir a cabeça e a pensar. E pode ser visto como «um curso de banda muito larga», mas não deixa de ser um investimento completamente errado (em detrimento da Física); interessa adquirir ferramentas práticas, aprender a focar, de modo conciso, os assuntos em que se vai trabalhar...
**Expressão futebolística detestável, mas que traduz, mais do que a «pedrada no charco», o que está acontecer. Que chegue a outros, o espanto e o "paradoxo científico": não temos que ser os únicos a suportar o seu peso! Se a FCT apoia, é projecto nacional; é dinheiro de todos, a prestar contas. As nossas estão completamente certas!