Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
07
Mai 11
publicado por primaluce, às 18:00link do post | comentar

Num dos posts* que abaixo se citam consta uma ideia que parece ser de destacar: "...problema é que as grandes crises neste planeta eram em ciclos, tão grandes, que no tempo que cá se andava não se repetia..."

Pela nossa parte sabemos que muitos nos vêem como «alguém jurássico», que anda - ou está a mais, num banco onde todos se querem sentar... - no mundo activo (pensante e decisivo)! Porém, é sabido , e portanto também se supõe que o sabem, não há tanto tempo quanto o necessário para produzir petróleo: o precioso líquido, «ouro negro», que permitiria (se fosse infindável) os amanhãs luminosos que todos queremos viver.

Assim, revisitar o passado recente, é uma boa ideia.

É que para além dos valores do barril de petróleo - que aparecem indicados nos blogs que encontrámos** - lembramo-nos ainda bem, dos preços que se praticavam em Portugal em 1973: como depois de uma subida instantânea, 1litro de gasolina normal (com chumbo), passou a custar 5$60. Foi nessa altura que, à boleia de alguém que ainda podia abastecer a 2$30 (ou seria a 2$80 cada litro?), fizemos umas férias de inverno. Ora o detalhe de que não nos lembramos, parecendo mínimo, e dentro do privilégio, já fazia a maior das diferenças. 

Portugal começava então a «ser moderno». Era o tempo das "Conversas Em Família" de Marcelo Caetano, quando muitos aproveitavam o fim de semana para fazerem "a voltinha do costume": i. e., o triangulo Lisboa-Sintra-Cascais, que, a certa altura, devido à subida dos preços, tiveram que abandonar. O que está espantosamente retratado pela Guidinha, nas suas célebres Redacções sobre passeios ao Domingo "no Mercedes do primo Manel...". Mas, essa modernidade é ainda mais viva, nas redacções que dedicou ao Design, o qual, em 1973, na Feira das Indústrias, a Guidinha conseguiu ver, e ficou fascinada, graças à Bolsa que ganhou. Assim passou a querer ser Designer***! 

Foi neste ambiente que se chegou a Abril de 74, em que, logo depois, não apenas o Golpe de Estado e a Revolução, determinavam as nossas actividades: desde muito cedo estávamos ligados ao ensino, não só a aprender, mas dando explicações particulares, ou experimentando, em várias áreas, em especial nos ateliers de arquitectos, e também antes, nalguns museus, onde os serviços educativos começavam a ganhar estatuto.

Sempre sem rumos que tivéssemos definido, previamente (menos ainda uma «carreira desenhada», com todo o rigor, de régua e esqudro), fomos convidados a entrar no IADE em 1976. Aí era preciso passar a ministrar, regularmente - e não apenas com carácter esporádico - um conjunto de informações na área do Conforto dos Ambientes Interiores. Sobretudo porque o tema da Iluminação (e logo depois muito mais veio por acréscimo!) era cada vez mais premente: o uso das lâmpadas de incandescência - que consumiam grandes quantidades de energia, comparadas com as de luz fluorescente - de imagem pouco agradável, e de potencialidades ainda desconhecidas (e desvalorizadas), obrigava a mudanças; em suma, a posturas pioneiras! 

A crise energética, em parte pelo custo que a electricidade estava a atingir, mas também porque a atitude tinha que passar a ser outra, muito mais virada para a poupança: e, sobretudo para a eficácia - fazendo mais com muito menos - obrigava a posturas altamente desafiantes.

Foram tempos (quase fabulosos) de aprendizagem e criatividade permanente, com o que se podia ir ver, ou o que chegava, de fora. Concretamente, a partir de documentos técnicos (alguns da Philips, e muitos outros, ainda em inglês e sem «as luminárias»), elaborámos súmulas simplificadas para os alunos. Mas foram também utilizadas informações de revistas - AR e AJ - da Architectural Press. Aí, mais do que em revistas francesas ou italianas, contactavam-se os novos materiais e suas técnicas: i. e., as soluções de «Boas Práticas» que a legislação portuguesa haveria de consagrar, uns bons anos mais tarde...

E, claro, de fora vieram também as imagens, que influenciaram e deram origem a edificios que ainda hoje são marcantes: como algumas obras de Conceição e Silva, T. Taveira, de N. Teotónio Pereira com N. Portas, e muitos, muitos outros. Faziam-se na senda da arquitectura do pós-guerra inglês, como o edifício do National Theatre (1967-76), de Sir Denys Lasdun, em que avulta o característico «betão-aparente», e os ângulos à meia-esquadria. Ou as obras de James Stirling - autor de grandes intervenções em museus e galerias; e ainda as teorias de Robert Venturi, sobre a Complexidade...

Quando hoje, pelas imagens, nos apercebemos da importância (e enorme influência) da arquitectura inglesa em Portugal, sabemos muito bem, os caminhos que fez, e as revistas que nos ateliers estavam sempre em cima dos estiradores. Nestas duas fotografias da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, chama-se a atenção para o modo de resolver o quarteirão - tipicamente inglês; e ainda para a geometria que a arquitectura inglesa (em muitos casos desde o Neogótico), ainda não abandonou.     

*http://comunidade.sol.pt/blogs/olindagil/archive/2011/03/02/O-MUNDO-E-A-CRISE-DO-PETR_D300_LEO-DE-1973.aspx

**Encontrámos, com o motor de busca, e sem grande selecção:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/petroleo_choque1.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/petroleo_sayad.shtml

***De Luís Sttau Monteiro: Buff que estou farta, de 27 de Outubro de 1973; e - Tive uma bolsa para ir à exposição do design, de 10 de Março de 1973, in a Mosca.

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Particularmente hoje, exporta-se alguma criatividade, embora sabemo-lo, se pudesse exportar muito mais (ver aqui em 2 de Janeiro 2011, e ainda em http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2011/05/07/o-que-os-finlandeses-precisam-de-saber-sobre-portugal-e-sucesso-no-youtube-e-redes-sociais)


06
Mai 11
publicado por primaluce, às 16:30link do post | comentar

...por aí perceberão que o palácio, ou toda a propriedade de Sintra, dadas as suas características, como riqueza, fama, e «exuberância», foi sempre objecto de muitas estórias. Escrito assim porque são historietas, que, nalguns casos - e agora já não é a grande história, ou o que se passou com o Aqueduto das Águas Livres, indelevelmente ligado a Monserrate, segundo mostrámos. Como dizemos, essas histórias foram demasiado efabuladas e empolgadas. Concretamente, há o exemplo da passagem de Eduardo VII pelo park, dizendo-se que com D. Carlos I, os dois reis teriam plantado duas árvores, colocadas demasiado próximas.

Em 2004, ao passarmos por essa historieta (o mesmo tendo acontecido em várias outras situações...) pudemos perceber que uma das fontes tinha uma versão, e que na outra fonte estava a contrária: dizendo-se que os reis não tinham tido tempo para plantar as árvores, apesar de estarem preparadas as pás (que se diz seriam de prata?!) e as alcofas com terra.

Com a visita recente do Príncipe de Gales passou-se praticamente o mesmo: ficou uma lápide de um acto que não aconteceu inteiramente (ou, pelo menos no local previsto), como aliás mostram as fotografias.

E este post serve exactamente para sublinhar isso: que muitas vezes, no passado, podem ter ocorrido, com frequência, este tipo de situações. Em casos menores não parece que seja grave, mas o importante é saber relativizar. Não exactamente desvalorizar as fontes documentais, no entanto, procurar fazer o cruzamento das várias informações, na tentativa de chegar mais próximo do que poderá ter sucedido..., o que, com rigôr total, não se sabe.

http://amigosdemonserrate.com/blog/Actualidade


04
Mai 11
publicado por primaluce, às 08:00link do post | comentar

No próximo Domingo, será o assunto do nosso post. Contar como em 1976, ao chegar ao IADE, o principal tema «em carteira», era transmitir o cuidado relativo à poupança da energia. Será mesmo sobre "As Primeiras Luzes".  


03
Mai 11
publicado por primaluce, às 17:00link do post | comentar

De facto, no último post acabámos abruptamente, por saber que estávamos a deixar muito material óptimo para pensar.

É que na verdade também sabíamos que haveria muitissimo mais; daí a necessidade de acabar, para depois recomeçar. E recomeça-se por aqui:

1. Em Londres as cerimónias de um casamento dito do século XXI, mas que decorreram num cenário com cerca de 800 a 900 anos.

E neste caso havia ainda a escolha da data - 29 de Abril, dia de Santa Catarina de Sena - mística e doutora da Igreja, que influiu grandemente na história do tempo em que viveu*.

2. Logo depois, nos dias seguintes, a agenda mediática passou a estar ocupada com outros assuntos a que também aludimos no nosso trabalho: a atitude de João Paulo II**. Ora, para cada um de nós, e independentemente das suas crenças, aquilo que nos é dado ver, é, exactamente, a importância da tradição e do passado, nos actos públicos (e na vida em geral) da nossa própria época.

Ainda sobre o casamento londrino, houve quem tudo resumisse à expressão que nos acorre várias vezes: "tradição e modernidade". Porém, se nos déssemos ao trabalho de analisar muitos outros factos, incluindo também a vida do cardeal polaco, que foi Papa, poderíamos notar que todo o presente é feito de passado. É com os ingredientes e com as referências que apreendemos no passado (até ontem), que hoje podemos pensar. E depois falamos, escrevemos, e desenhamos ou projectamos, com esses referentes!

Porquê esta insistência, e estas nossas reflexões sobre o assunto «Passado»?

Porque, com enorme frequência, é possível observar que alguns «modernos-contemporâneos-ferrenhos» julgam que só há modernidade se fizerem uso sistemático da novidade. Isto é, daquilo que é criado de novo. Talvez tenham razão..., mas não conhecemos muitos exemplos?

Em contrapartida, não faltam, e tornaram-se memoráveis, os casos em que as obras foram buscar elementos do passado. Sendo estes introduzidos em contextos contemporâneos. Esses exemplos tiveram depois reconhecimento, ou até êxitos, que não se podem desprezar.

Mais, aquilo que hoje percebemos terem sido os Estilos Artísticos e Arquitectónicos, são «escritas» que se socorreram de um número limitado de vocábulos (que eram imagens), para transmitirem mensagens específicas: características da Teologia Cristã (ou a catequese), de cada época...

A seguir citaríamos Regina Anacleto, e o que escreveu sobre a Arquitectura Neomedieval, nas suas diferentes fases. Não se apercebendo a autora que o espírito que esteve subjacente às obras do século XVIII, em geral é diferente do Revivalismo do século XIX; apesar de ambos irem buscar o passado! 

Mas damos outro exemplo: quando Josefa de Óbidos incluiu nos seus trabalhos as Amêndoas, hoje consideradas características de Torre de Moncorvo (pois aí continuam a fazer-se à maneira antiga), talvez pretendesse aludir ao mesmo sentido que está na Mandorla, que envolve as imagens de Cristo Pantocrator, características das obras do Românico Proto-Gótico? Perguntamos, porque ao certo não sabemos... 

Mas hoje, em geral, quem come amêndoas na Páscoa, desconhece que a Amêndoa também simbolizou Cristo, e depois a sua Ressurreição. E no entanto, quem é que por esta altura não viu amêndoas, ou não as teve, na mesa de festa?

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*Sobre Santa Catarina de Sena, ler a história da sua vida em VELBC (Enciclopédia Verbo), v. 4, c. 1503.

**No nosso trabalho dedicado a Monserrate, recordamo-nos de ter feito referência a dogmas e outras definições teológicas. Demos o exemplo das atitudes de J. P. II, mais favorável à inclusão; ao contrário do que se passou no passado (na época medieval), quando, tantas vezes, a pretexto da não aceitação das ideias que a Igreja considerava ortodoxas (ou correctas), quase de imediato era decretada a exclusão (ou excomunhão), de quem se colocasse na situação de heterodoxia. Ver Monserrate, uma nova história, op. cit., p. 157.


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