Num dos posts* que abaixo se citam consta uma ideia que parece ser de destacar: "...problema é que as grandes crises neste planeta eram em ciclos, tão grandes, que no tempo que cá se andava não se repetia..."
Pela nossa parte sabemos que muitos nos vêem como «alguém jurássico», que anda - ou está a mais, num banco onde todos se querem sentar... - no mundo activo (pensante e decisivo)! Porém, é sabido , e portanto também se supõe que o sabem, não há tanto tempo quanto o necessário para produzir petróleo: o precioso líquido, «ouro negro», que permitiria (se fosse infindável) os amanhãs luminosos que todos queremos viver.
Assim, revisitar o passado recente, é uma boa ideia.
É que para além dos valores do barril de petróleo - que aparecem indicados nos blogs que encontrámos** - lembramo-nos ainda bem, dos preços que se praticavam em Portugal em 1973: como depois de uma subida instantânea, 1litro de gasolina normal (com chumbo), passou a custar 5$60. Foi nessa altura que, à boleia de alguém que ainda podia abastecer a 2$30 (ou seria a 2$80 cada litro?), fizemos umas férias de inverno. Ora o detalhe de que não nos lembramos, parecendo mínimo, e dentro do privilégio, já fazia a maior das diferenças.
Portugal começava então a «ser moderno». Era o tempo das "Conversas Em Família" de Marcelo Caetano, quando muitos aproveitavam o fim de semana para fazerem "a voltinha do costume": i. e., o triangulo Lisboa-Sintra-Cascais, que, a certa altura, devido à subida dos preços, tiveram que abandonar. O que está espantosamente retratado pela Guidinha, nas suas célebres Redacções sobre passeios ao Domingo "no Mercedes do primo Manel...". Mas, essa modernidade é ainda mais viva, nas redacções que dedicou ao Design, o qual, em 1973, na Feira das Indústrias, a Guidinha conseguiu ver, e ficou fascinada, graças à Bolsa que ganhou. Assim passou a querer ser Designer***!
Foi neste ambiente que se chegou a Abril de 74, em que, logo depois, não apenas o Golpe de Estado e a Revolução, determinavam as nossas actividades: desde muito cedo estávamos ligados ao ensino, não só a aprender, mas dando explicações particulares, ou experimentando, em várias áreas, em especial nos ateliers de arquitectos, e também antes, nalguns museus, onde os serviços educativos começavam a ganhar estatuto.
Sempre sem rumos que tivéssemos definido, previamente (menos ainda uma «carreira desenhada», com todo o rigor, de régua e esqudro), fomos convidados a entrar no IADE em 1976. Aí era preciso passar a ministrar, regularmente - e não apenas com carácter esporádico - um conjunto de informações na área do Conforto dos Ambientes Interiores. Sobretudo porque o tema da Iluminação (e logo depois muito mais veio por acréscimo!) era cada vez mais premente: o uso das lâmpadas de incandescência - que consumiam grandes quantidades de energia, comparadas com as de luz fluorescente - de imagem pouco agradável, e de potencialidades ainda desconhecidas (e desvalorizadas), obrigava a mudanças; em suma, a posturas pioneiras!
A crise energética, em parte pelo custo que a electricidade estava a atingir, mas também porque a atitude tinha que passar a ser outra, muito mais virada para a poupança: e, sobretudo para a eficácia - fazendo mais com muito menos - obrigava a posturas altamente desafiantes.
Foram tempos (quase fabulosos) de aprendizagem e criatividade permanente, com o que se podia ir ver, ou o que chegava, de fora. Concretamente, a partir de documentos técnicos (alguns da Philips, e muitos outros, ainda em inglês e sem «as luminárias»), elaborámos súmulas simplificadas para os alunos. Mas foram também utilizadas informações de revistas - AR e AJ - da Architectural Press. Aí, mais do que em revistas francesas ou italianas, contactavam-se os novos materiais e suas técnicas: i. e., as soluções de «Boas Práticas» que a legislação portuguesa haveria de consagrar, uns bons anos mais tarde...
E, claro, de fora vieram também as imagens, que influenciaram e deram origem a edificios que ainda hoje são marcantes: como algumas obras de Conceição e Silva, T. Taveira, de N. Teotónio Pereira com N. Portas, e muitos, muitos outros. Faziam-se na senda da arquitectura do pós-guerra inglês, como o edifício do National Theatre (1967-76), de Sir Denys Lasdun, em que avulta o característico «betão-aparente», e os ângulos à meia-esquadria. Ou as obras de James Stirling - autor de grandes intervenções em museus e galerias; e ainda as teorias de Robert Venturi, sobre a Complexidade...
Quando hoje, pelas imagens, nos apercebemos da importância (e enorme influência) da arquitectura inglesa em Portugal, sabemos muito bem, os caminhos que fez, e as revistas que nos ateliers estavam sempre em cima dos estiradores. Nestas duas fotografias da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, chama-se a atenção para o modo de resolver o quarteirão - tipicamente inglês; e ainda para a geometria que a arquitectura inglesa (em muitos casos desde o Neogótico), ainda não abandonou.
**Encontrámos, com o motor de busca, e sem grande selecção:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/petroleo_choque1.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/petroleo_sayad.shtml
***De Luís Sttau Monteiro: Buff que estou farta, de 27 de Outubro de 1973; e - Tive uma bolsa para ir à exposição do design, de 10 de Março de 1973, in a Mosca.
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Particularmente hoje, exporta-se alguma criatividade, embora sabemo-lo, se pudesse exportar muito mais (ver aqui em 2 de Janeiro 2011, e ainda em http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2011/05/07/o-que-os-finlandeses-precisam-de-saber-sobre-portugal-e-sucesso-no-youtube-e-redes-sociais)