Claro que quando as pessoas são mais experientes e mais informadas, não se deixam enganar facilmente. Já uma vez deixámos neste blog uma fotografia de um trabalho nosso. Foi feito para a CM de Oeiras. Ora uma das questões importantes em projectos, para o arquitecto (ou até para a sociedade em geral...), é o desenho arquitectónico. Mas para os clientes, sobretudo para aqueles que mais confiam (e exigem), há outros elementos que lhes podem dizer mais: e esses são o Caderno de Encargos e as Medições e Orçamento.
Quando se percorre com todo o cuidado esta última peça, tomam-se decisões e com base nelas, ficam depois a conhecer-se os custos que vão estar envolvidos nas obras a realizar. Acontece que apesar deste nosso «depois», a ordem não é essa: a construção dos custos, não começou por aí, i. e., pelos detalhes. Ela começou muito antes, quando se fizeram sucessivas estimativas: estimando primeiro, genericamente, o custo por metro quadrado; e depois se continuou, passando a trabalhar já com orçamentos reais: os quais começam a ter bases sustentadas. Ou seja, assentam no Projecto Geral, que já tem um razoável nível de pormenor. Define-se assim, crescentemente, qual irá ser o valor final da obra.
Quando neste blog, várias vezes, temos aqui falado em métodos de Black Box, esse período de tempo (ou fase de projecto), em geral correspondeu à fase da «fantasia-não-sustentada». Isto é, quando se pretendia desenvolver, ao máximo, a criatividade e as possíveis soluções para o problema em causa. Mas, depois disso, os processos e os métodos têm que mudar: e a caixa (a tal box) tem que passar a ser transparente. Christopher Jones chama-lhe Glass Box*, e é nessa fase que se pode conhecer, de facto, e com muito mais rigôr, a obra que se pretende vir a realizar.
Quem sabe mais, e está mais informado, mesmo que seja (ou até que não seja...) projectista, não vive em fantasias permanentes! Esses - experientes e conhecedores - sabem alternar a criatividade com o tempo de pôr os pés no chão.
Há dois dias (18.04.2011) Freitas do Amaral ao ser entrevistado sobre a situação crítica que se vive no país, não falou exactamente disto, mas, claro, foi logo disto tudo que nos lembrámos: dos TGVs, da Ota e Alcochete; das Pontes e do tão apregoado «Jamé». Depois lembramo-nos que apareceu o Poceirão, e mais muitas outras fantasias com que o país inteiro sonhava às Segundas-Feiras... E na verdade, tal e qual como se deve fazer em projectos: analisando os Prós e os Contras!
Mas, por detrás de tanta fantasia, e verdadeiros "brainstorms" de criativos, não havia o menor realismo. Quando muito estariam lá, apenas, os "tremendistas de serviço": Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira. Que eram gozados, numa chacota perfeita e irresponsável, a que ninguém, com um mínimo de senso punha côbro e lhes dava força.
Agora apetece perguntar: esses Senhores são as únicas pessoas com o sentido do real e do pragmático? Pessoas que não perdem tempo com fantasias? Ou há mais portugueses capazes de serem realistas? A pergunta faz imenso sentido, parece-nos, porque mais do que nunca, precisamos de Justiça, de Verdade (sem fantasias), muito realismo, e sobretudo do pragmatismo**.
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* Com todo o rigôr no Método de C. Jones não é exactamente assim, mas pode-se descrever, sumariamente, nestes termos.
**Este é mais típico dos povos do norte da Europa, mas, enfim, depois de tanta Educação e Ciência, é natural que ao menos um pouco já tenha sido absorvido, e alguns o possam transmitir à Sociedade?