Pois é – de facto continua a haver muito para fazer... - e, em simultâneo, queremos voltar a Monserrate. Assim hoje ficam alguns diagnósticos, feitos para fora, quase «para inglês ver», de alguns responsáveis pelo Ensino em Portugal. Mas, ficam também outros, e esses feitos para dentro (aos Amigos de Monserrate em 2010). Neste caso estamos a pensar num depoimento de José António de Mello, que em 2008 estava à frente da AAM, e assim, pessoalmente e pela parte dessa Associação, nos apoiou no lançamento do livro dedicado a Monserrate. O que decorreu no Palácio Barão de Quintela* (há quase 3 anos).
Se Marçal Grilo e António da Nóvoa referem a ausência de hábitos de estudo e de investigação, em contraponto está o interessante depoimento de José A. de Mello, que divulga, de uma forma directa, e sobretudo mais esclarecedora do que é habitual**, várias referências alusivas à vontade que teve Saragga Leal, com os seus objectivos, desde logo muito específicos, para ter adquirido a propriedade de Monserrate aos Cook. É que tinha em vista, a realização, pronta e imediata, do lucro.
Por isso, na sua perspectiva, a propriedade seria fraccionada e urbanizada, como alguns têm escrito; mas poucos conseguem dar informações, tão específicas, dessa história, que, como se lê, ficou depois a marcar a família: registando a vontade de fazer o loteamento, e a destruição - dizemos nós - de um bem que (inteiro), é sem dúvida, valiosíssimo. A ter acontecido, seria o equivalente, por exemplo, a agarrar numa peça de arte, e tirar-lhe a madeira de que era feita para alguém se aquecer fazendo uma fogueira. Seria como fundir baixelas para ter prata, ou o derreter de jóias, para ter ouro.
Como é mostrado, esse «quase-sacrilégio» foi evitado de uma maneira bem ditatorial; imposto por quem entendeu que ali havia valores que o dinheiro não paga...
Ora, passados estes anos (60-70) talvez esta seja uma «estória edificante»? Já que o dinheiro é o dinheiro, e se há quem goste de ter os bolsos cheios (a abarrotar), outros há que sabem que nem tudo se vende ou se compra, e por vezes é preciso lembrá-lo: é que também há valores, talvez menos exuberantes, muito mais silenciosos, e também mais estáveis e seguros.
No link a seguir, do Wall Street Journal, fala-se em dois deles – a educação e o ensino. No outro fica essa «estória» que é contada, não na primeira pessoa, mas ainda repleta de vários sentimentos, que o tempo parece não ter apagado. Serão eles equívocos? Ou talvez não? O que pensamos nós dos verdadeiros valores? Onde começam e acabam? Será que vão do ouro ao húmus da terra? Ou, nem pensar, quando muito ficam na pedra, e já o estuque «lavrado» não passa de um "ersatz"?
Eis o que nos parece ser um óptimo tema para começar a debater os valores que andam em crise...
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*Designação que é a original, pois tem a ver com quem primeiro construiu o Palácio, e não com os actuais proprietários.
**Em que as pessoas repetem informações, mas sem se esforçarem por as esclarecer, junto daqueles que ainda as podem dar em primeira mão.