Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
30
Abr 11
publicado por primaluce, às 17:50link do post | comentar

Esta frase não é nossa. Provavelmente é de todos os que tendo muito que fazer - ou querendo realizar mais do que aquilo que já fazem - se confrontam com falta de tempo...

Mas, de facto é uma simples lei da física: duas coisas, várias coisas, não podem, ao mesmo tempo, ocupar o mesmo e único lugar.

Também nós, embora tentando, não nos desdobramos, e a falta de tempo, ou de colaboradores em quem pudéssemos delegar uma parte das nossas tarefas, impede-nos de ir mais longe.   

É uma horrível sensação de pouca utilidade, e de estar a «pisar ovos», mas é o que é!

Claro, que é também isto que a chamada «troika» veio, recentemente, ver a Portugal. E talvez ainda, tentar pôr cobro e pôr ordem, se conseguirem diagnosticar as maleitas endémicas da sociedade portuguesa: porque é que se produz tão pouco neste país? Que é uma sociedade e um país de desorganização, e desperdício; onde impera a falta de planeamento, a falta de lógica, e a falta de avaliações verdadeiras e justas; com permanentes atropelos à mais elementar justiça. Onde os levantamentos, correctos, das reais condições - sem fantasias - daquilo que se produz, para retribuir depois, o seu a seu dono, esses diagnósticos não existem. Não se conhece a competência, que é, permanentemente escamoteada, pela incompetência assumida. Depois, em termos de recompensas, devidas e correspondentes, também nada disso existe!

Deixamos-vos hoje um recorte de um jornal, para o qual chamamos a atenção.   

É deste mês (passado dia 9), quando o Expresso fez um artigo sobre a obra de Hans Belting. A qual confirma, pelo menos em parte, aquilo a que nos temos dedicado nos últimos anos: vem aí uma Nova História da Imagem, como escrevemos neste blog em 12 de Outubro passado, usando a palavra Iconoteologia.

Mas as teorias de Hans Belting, daquilo que pudemos apreender nas leituras que fizemos de alguns trabalhos seus, situam-se, muito mais, na área da «Imagem Icónica». Ou, no que esta expressão em geral traduz: referente aos Ícones (do Cristianismo Ortodoxo). Mas também, por «Imagem Icónica» - e passando o pleonasmo (a etimologia destas palavras) - pode estar a querer referir-se uma imagem naturalista.

No caso das nossas ideias e teorias, embora aproveitando, aqui e ali algumas das informações de H. Belting, que são muito úteis, no entanto elas são, sobretudo, relativas ao que se designam como imagens abstractas. Ora como se tem dito, a nós interessa-nos muito mais, o significado de uma série de Ideogramas de génese ou "desenho geométrico"; isto é, tudo o que essa noção implica. Pois, concretamente, ao ser geométrico, são as caracteríticas dessas formas (rigorosas e definidas) que servem de base à linguagem usada*. E ficamos por aqui...

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* Ler a citação que fizemos de um excerto retirado de Dionísio, o Pseudo-Areopagita, em tradução de Maurice de Gandillac, no nosso trabalho dedicado a Monserrate. Ver op. cit., p. 41. Por aí se percebe, por exemplo, como a exactidão rigorosa da Geometria serviu para explicar Deus (neste caso o Deus dos cristãos).  


29
Abr 11
publicado por primaluce, às 00:00link do post | comentar

Faz hoje exactamente um mês que houve em Monserrate uma recepção muito especial - ao Príncipe de Gales e à Duquesa da Cornualha. A presença de um grande número de pessoas, bem dispostas, divertidas, elegantes e sobretudo bastante descontraídas, deu aos jardins de Monserrate um ambiente ainda mais agradável e bonito, do que aquele que, normalmente tem.

A cerca de uma hora de espera, permitiu pôr as conversas em dia, e ver as novidades: que, neste caso, são as várias zonas que vão sendo restauradas. Mas, descrever mais do que isto..., não vamos! Porque nem cronista social, ou, menos ainda, relatora de imagens e dos ambientes visuais, que pudemos gozar (e nos quais o lado subjectivo tem muito peso). Assim, podem talvez exercitar a imaginação - imaginando. Ou, em substituição, vendo algumas fotografias, e lendo alguns textos. Completando depois com uma visita ao local. Não só não se vão arrepender, como fazem o mesmo que cineastas, fotógrafos, pintores e arquitectos praticam em termos profissionais: da imaginação à realização... treinar é uma sensação a experimentar!

ver ainda

http://amigosdemonserrate.com/artigo/editorial

http://amigosdemonserrate.com/en/article/inauguration-vale-das-rosas-their-royal-highnesses-prince-wales-and-duchess-cornwall


27
Abr 11
publicado por primaluce, às 17:30link do post | comentar

Para quem como nós pensa o Design, principalmente, como organização, e não forçosamente como Estilismo - onde as «componentes» de ordem Estética devessem ser as predominantes - nessa perspectiva parece-nos que vale a pena olhar para as imagens seguintes*. 

Mas talvez valha ainda mais? 

Talvez se deva reflectir nalgumas brincadeiras de crianças, quando "just pretending", decidem que ali é o quarto, do outro lado a entrada, ali guardam-se as roupas, etc., etc., e assim compartimentam o espaço, não apenas mentalmente, mas com os vários objectos (grandes) que têm à mão: cadeiras, sofás, painéis e cortinas; ou ainda, por exemplo, usando os próprios pequenos recantos, junto das janelas... 

Os pontos de contacto entre essas situações dos jogos infantis, que geralmente são básicas, ou até primitivas, e outras muito mais evoluídas, é impossível não os ver.

Embora não se possa dizer que o exemplo que a seguir damos seja muito evoluído - já que ele é apenas um recurso - no entanto, é uma base que se pode vir a desenvolver. Claro que é também triste, já que as pessoas (adultos, que se podem ver a si mesmos numa espécie de regressão), foram obrigadas, numa «situação limite», a improvisar novas casas e os seus recantos; i.e., a organizarem-se em áreas minusculas. Fizeram-no de modo a que as suas actividades quotidianas, apesar de reduzidas, possam continuar com uma normalidade mínima. Ou, como dizemos, criaram bases para que depois do período mais crítico, possam retomar a normalidade das suas vidas...  

http://static.publico.pt/docs/mundo/abrigosjapao/

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* Ou, mais do que vale a pena é obrigatório: até porque depois de se ter escrito este post, vimos no youtube um estudo, mais desenvolvido, feito por um arquitecto, relativo a casas de cartão e papel, que são usuais entre os japoneses. Pois de certo modo dão continuidade às suas casas tradicionais. Recentemente alguns alunos fizeram-nos perguntas sobre este tema, e na verdade sobre ele conhecemos alguma bibliografia (a não perder): 1. um texto de Bruno Munari, que está num capítulo de um dos seus livros. E, 2. A Casa Tradicional Japonesa, de Isabel Quelhas de Lima, Ed. Civilização, Barcelos, Out. 1985.   


26
Abr 11
publicado por primaluce, às 09:30link do post | comentar

Sobre Pensamento uno naturalmente todos perceberão a ideia a que nos referimos. Já o Pensamento sincopado pode prestar-se a confusões visto que a analogia vem da música, mas sem estarmos a pensar em ritmos... Quando dizemos Pensamento sincopado referimo-nos aos momentos de silêncio, e aos vazios aparentes, entre as outras realidades mais fortes, que contrastam com o intervalo (síncope ou paragem), mesmo que mínimo, em que pode não haver som*.

Voltemos ao Pensamento uno, que é completamente diferente de «Pensamento único». Em nossa opinião, tal como já referimos há dias, e é isso que nos mostram quotidianamente muitos inexperientes (gostam de ser vistos sábios e doutores...); em nossa opinião a sociedade de hoje vira-se para o que é propagandeado, publicitado e mais falado. E sabe, quase o zero (absoluto a -273ºC, ou 0ºK), de tudo o resto! Não ligam, ou fazem interagir**, as várias noções que devem ter aprendido? Pelo menos supõe-se.

O Pensamento dessas pessoas, verdadeiras caixas de ressonância daquilo que lhes é alheio, não são ideias articuladas; não são realidades conectadas, e com gaps mais ou menos preenchidos: mas são, sim e apenas, ideias soltas. Essas pessoas, de tanto se especializarem, não conseguem formular pensamentos mais ou menos completos, pois não vêem mais nada, e pouco mais conhecem, para além das suas especializações!   

É claro que se há ambientes - a Universidade, e as Empresas - em que isto muito se nota, porém vai afectar a sociedade em geral: a comunidade, o país. Muitos referem por vezes que os governantes e os políticos que vão para a AR não têm experiência de vida, que só viveram dentro dos partidos, onde fizeram carreira... Mas, a verdade é que hoje as nossas sociedades evoluíram para um excesso de especialização, onde não há transversalidade (nenhuma)! A ponto de ninguém se meter nos «assuntos dos outros», como se houvesse barreiras intransponíveis e não fosse possível, ou muitíssimo útil, saber um pouco de tudo?!

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*Aqui ocorre-nos uma explicação que recentemente ouvimos, vinda de António Vitorino de Almeida: como os estilos e os ornamentos da arquitectura vienense lhe foram úteis, ajudando-o a compreender a música. 

**Actualmente temos detectado que se usa e abusa deste verbo - «interagir», que bem usado é inteligente e útil. Mas, quando usado por tudo e por nada, faz de todos nós uns (macaquinhos) básicos: as mesmas ilhas soltas de unidades únicas (próximos das "monades" de Leibniz?)... Assim, os alunos e os mais novos, hoje preferem interagir, em vez de «falar com», ou «conversar», ou «entregar», ou «dar». Até mesmo «ensinar», «aconselhar» e «confratenizar», para muitos é igual a «interagir».

A Páscoa é muito mais do que um Domingo, sobre amêndoas e mandorlas havemos de explicar porque se comem agora; também porque passaram para os escudos, esferas armilares, etc.


22
Abr 11
publicado por primaluce, às 11:45link do post | comentar

Fiat lux, esteve para ser o nome deste blog, que formámos para ensinar*. Há muito, i. e. claramente desde 2001, percebemos que a nossa principal actividade, e até obrigação (cívica e moral) seria ensinar. Pois estando por dentro do Ensino Superior, era-nos dado ver como muito (ou quase tudo) andava erradíssimo!

Como todos os dias se atropelavam as verdades mais elementares, com muita propaganda, e muito faz de conta. Ou, a palavra que tantos adoram e talvez nem saibamos escrever: "glamour" (será esta a grafia?) 

A Fábula da Cigarra e da Formiga é antiquíssima. Acabou o tempo de cigarrar, e há agora muito para formigar. Era bom que começássemos antes do inverno!

Por nós, uma boa parte do que já «formigámos» está publicado, mas há mais. Muitíssimo mais, que várias cigarras (e os fazedores do obscuro...), tudo têm feito para que se não veja e não exista. Vamos ver até quando? Vamos ver se de repente não vai mudar tudo, e não se vai tornar urgente - como o pãozinho para a boca?... - que o nosso trabalho passe a ter visibilidade, e a ser publicitado?     

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Fica o link para um outro trabalho, de mais um «avisador de serviço», verdadeiro professor, a quem pouco ouviram. Desejando nós que não se copiem mais, e acriticamente, os «tiques do poder», com as suas auras e esplendores glamorosos. Sobretudo quando os mesmos estão repletos de mentira! 

http://economico.sapo.pt/noticias/politicos-foram-os-maiores-culpados-da-crise_115034.html

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*Ver mês de Outubro 2010, em especial no dia 9 de Outubro


21
Abr 11
publicado por primaluce, às 09:29link do post | comentar

Veja-se o que é fantasia, e imaginação. Mas, neste caso posta ao serviço da criação de padrões e de novas imagens:

http://marianacoutinho.com/#1180341/Mariana-A-Coutinho


20
Abr 11
publicado por primaluce, às 11:30link do post | comentar

Claro que quando as pessoas são mais experientes e mais informadas, não se deixam enganar facilmente. Já uma vez deixámos neste blog uma fotografia de um trabalho nosso. Foi feito para a CM de Oeiras. Ora uma das questões importantes em projectos, para o arquitecto (ou até para a sociedade em geral...), é o desenho arquitectónico. Mas para os clientes, sobretudo para aqueles que mais confiam (e exigem), há outros elementos que lhes podem dizer mais: e esses são o Caderno de Encargos e as Medições e Orçamento. 

Quando se percorre com todo o cuidado esta última peça, tomam-se decisões e com base nelas, ficam depois a conhecer-se os custos que vão estar envolvidos nas obras a realizar. Acontece que apesar deste nosso «depois», a ordem não é essa: a construção dos custos, não começou por aí, i. e., pelos detalhes. Ela começou muito antes, quando se fizeram sucessivas estimativas: estimando primeiro, genericamente, o custo por metro quadrado; e depois se continuou, passando a trabalhar já com orçamentos reais: os quais começam a ter bases sustentadas. Ou seja, assentam no Projecto Geral, que já tem um razoável nível de pormenor. Define-se assim, crescentemente, qual irá ser o valor final da obra. 

Quando neste blog, várias vezes, temos aqui falado em métodos de Black Box, esse período de tempo (ou fase de projecto), em geral correspondeu à fase da «fantasia-não-sustentada». Isto é, quando se pretendia desenvolver, ao máximo, a criatividade e as possíveis soluções para o problema em causa. Mas, depois disso, os processos e os métodos têm que mudar: e a caixa (a tal box) tem que passar a ser transparente. Christopher Jones chama-lhe Glass Box*, e é nessa fase que se pode conhecer, de facto, e com muito mais rigôr, a obra que se pretende vir a realizar.

Quem sabe mais, e está mais informado, mesmo que seja (ou até que não seja...) projectista, não vive em fantasias permanentes! Esses - experientes e conhecedores - sabem alternar a criatividade com o tempo de pôr os pés no chão.

Há dois dias (18.04.2011) Freitas do Amaral ao ser entrevistado sobre a situação crítica que se vive no país, não falou exactamente disto, mas, claro, foi logo disto tudo que nos lembrámos: dos TGVs, da Ota e Alcochete; das Pontes e do tão apregoado «Jamé». Depois lembramo-nos que apareceu o Poceirão, e mais muitas outras fantasias com que o país inteiro sonhava às Segundas-Feiras... E na verdade, tal e qual como se deve fazer em projectos: analisando os Prós e os Contras

Mas, por detrás de tanta fantasia, e verdadeiros "brainstorms" de criativos, não havia o menor realismo. Quando muito estariam lá, apenas, os "tremendistas de serviço": Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira. Que eram gozados, numa chacota perfeita e irresponsável, a que ninguém, com um mínimo de senso punha côbro e lhes dava força.

Agora apetece perguntar: esses Senhores são as únicas pessoas com o sentido do real e do pragmático? Pessoas que não perdem tempo com fantasias? Ou há mais portugueses capazes de serem realistas? A pergunta faz imenso sentido, parece-nos, porque mais do que nunca, precisamos de Justiça, de Verdade (sem fantasias), muito realismo, e sobretudo do pragmatismo**.

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* Com todo o rigôr no Método de C. Jones não é exactamente assim, mas pode-se descrever, sumariamente, nestes termos. 

**Este é mais típico dos povos do norte da Europa, mas, enfim, depois de tanta Educação e Ciência, é natural que ao menos um pouco já tenha sido absorvido, e alguns o possam transmitir à Sociedade?       

 

 


18
Abr 11
publicado por primaluce, às 11:40link do post | comentar

Logo que decidimos fazer o blog, ao mesmo tempo saltou a nossa «paixão» pelo Património Arquitectónico, concretamente por Lisboa. Aliás, na fotografia do Rossio, não se chamou a atenção para isso, mas no prédio onde está instalada a pastelaria Suíça, além das necessárias chaminés (feiosas, a precisarem de um design cuidado...), nesse edifício, para bons observadores, há uma cobertura com a característica forma «alabaçada», como foi designada pelo arquitecto Luís Benavente*. 

Como é sabido o Barroco português adquiriu muitas vezes cunhos orientais. E aqui quando referimos o orientalismo, não é aquilo que por tradição nos é estranho, e se lhe chama «oriental» (tout court, mesmo que seja do centro da Península Ibérica!). Aqui, claro que designamos como sendo de «feição orientalista» o arredondado (côncavo) dos telhados, cujo beirado não prolonga a inclinação maior que vinha desde cima. Mas que se adoça - e adossa - contra as paredes, no topo superior das mesmas. Como sucede nos chamados "telhados de tesouro" (ou de tesoura), de que Orlando Ribeiro escreveu. É também ele quem explica a origem indiana, chinesa (e, ou, também japonesa?), dessa formas de cobertura. 

Já quanto à estátua de D. Pedro IV, é uma história contada por J. Cardoso Pires em - Lisboa, Livro de Bordo, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1997. De lá (pp. 15 e 16), retirámos os extractos que se seguem:

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*Chamou, e ouvimos directamente, por isso não esquecemos. Nos dicionários "alabaça" é uma tábua, com que se fecha o rombo de um barco.

**Para nós este assunto - «telhados de tesouro» - tem muito mais que se lhe diga, e a referência, que é também feita por Orlando Ribeiro, faz imenso sentido: pois associa as "mansardas de Lisboa", às coberturas de Tavira, de Vila-Real de Santo António e de Castro-Marim. Mas tudo isto são sínteses formais, em nossa opinião, combinações de elementos de muitas origens, e a que também não são alheios propósitos culturais e sociais (muito específicos): marcar a casa de alguém com aquilo que consideramos terem sido "sinais do cristianismo", e "sinais da nobreza". Ver em Orlando Ribeiro, Geografia e Civilização, Temas Portugueses, Instituto de Alta Cultura, Lisboa 1961, pp. 142 a 146.


15
Abr 11
publicado por primaluce, às 15:30link do post | comentar

Por um grande desconhecimento ou razões que um dia se poderão apurar e esclarecer (?), aqueles que deveriam ser os principais interessados nos estudos que iniciámos, e para os quais, no começo, contribuíram, a partir de certa altura (2008-2009?) decidiram mudar de rumo. Desvalorizaram ou esqueceram os seus próprios compromissos? Claro, não sabemos. Só que no fim não serão os únicos perdedores, embora na prática os maiores...

O contacto com a Publicidade (e o marketing) tem-nos ajudado a admitir que essa disciplina em geral não parece contribuir para uma compreensão e intelecção, mais esclarecida, deste mundo em que vivemos*? Dizêmo-lo porque, aparentemente, muitos só vêem, ou são alertados (pelos ouvidos e outros sentidos), para determinados  factos e realidades, apenas depois da Publicidade ter passado por lá. Isto é, ou a Publicidade passou pelos factos, ou a Publicidade passou por essas pessoas? E se não tivesse sido a Publicidade, nada teriam notado. Parece pois que «descansam» nela, abstendo-se de levar mais adiante os seus próprios raciocínios e crivos intelectuais. Enfim, dir-se-ia que só sabem dar valor àquilo que alguém já lhes indicou, antecipadamente, como tendo valor.

Esta é uma história longa, já com sucessivas reflexões nossas, que agora tentamos abreviar: aconteceu no início deste semestre, quando um aluno nos disse que as suas preferências e intenções profissionais seriam para um dia vir a trabalhar em Publicidade, combinada com o Design. Mas, como vinha a "...descobrir que a publicidade é mentirosa/enganosa...", então parecia-lhe preferível optar por outros caminhos.

Longos anos de ensino, e uma frase assim, atirada com força, obrigou-nos a reagir imediatamente: com a mesma força (ou ainda mais?), e logo de seguida respondemos: "...não, isso é um engano seu! Talvez conheça, e até predominem, maus e péssimos exemplos! Mas a publicidade séria não tem esses objectivos..." 

Ora logo de imediato também nos surpreendemos nós, com a nossa reacção: correctíssima, mas tendo sido quase irreflectida. Tínhamos tentado fazer ver que a Publicidade tem como principal objectivo tornar notadas, e dar relevo, às situações, e aos valores, que andam menos vistos; ou até mesmo, muito mais esquecidos!    

Claro que a nossa própria surpresa nos fez depois prolongar as reflexões sobre o assunto. Levou-nos a pensar no bom e no mau, vantagens e inconvenientes da Publicidade, no mundo de hoje. E se, concretamente, pensámos em termos globais, sobretudo foi a forma como parece tocar a mentalidade que tem predominado (nos últimos tempos) na sociedade portuguesa. Isto é, no facto da Publicidade não ter funcionado para exortar valores, e para puxar o país para cima: por exemplo dando mais importância às atitudes correctas; ou, em prol do consumo de produtos nacionais; do «relançamento» de actividades e de valores que a sociedade, sobretudo a classe média (ou alta, e média em geral) não têm promovido, etc., etc.**. Em resumo, tratam-se das atitudes cujo maior interesse, e a sua respectiva valorização, não têm acontecido. Claro que aqui estamos a pensar, também, naquilo que ao longo da história, e como tropo (ou alegoria), foi considerado «edificante» e «construtivo»***. 

Para concluir, é verdade que também se tornou notório (para nós, consequência das observações feitas), que quem funciona estritamente  agarrado às lógicas da Publicidade, não chega a ir mais longe do que ela: esses limitam-se a funcionar como se fossem «caixas de ressonância», ou de amplificação, de 3ª, 4ª e enésima ordem. Limitam-se, talvez apenas, a valorizar aquilo que já viram e ouviram os outros promover? Enfim, não têm verdadeiras iniciativas de quem se arrisca, a si mesmo, e a sério. Não vislumbram, por si, o interesse maior de certos objectos, valores, realidades, ideias, teorias, etc...

Há muitos, muitos anos, na polivalência de leccionação, que sucessivamente nos solicitaram e a que sempre demos resposta, a melhor que conseguíamos, chegámos a ensinar Metodologia Projectual. Havia então uma ideia que se tentava fazer chegar aos alunos: se a sociedade fosse comparada a um comboio em movimento, o Designer deveria ser sempre alguém na carruagem da frente. Pois devia conhecer as suas matérias e temas, antes de todos os outros. Ser vanguarda, ou tentar sê-lo, andando perto. Devia conhecer tendências, «fazer acontecer», e nunca ir a reboque dos acontecimentos! Enfim, nunca deveria viajar na carruagem de trás!

Lisboa é linda: linda de morrer, e com perspectivas fabulosas (em nossa opinião). Se quiserem seguir-nos comecem a gozá-la! 

No centro da imagem, ao fundo o mirante-lanternim da Pensão Ninho das Águias. Logo abaixo a Torre de S. Lourenço, e já no Rossio, a estátua de D. Pedro IV (que para J. Cardoso Pires - era a do Imperador Maximiliano do México, a fingir de D. Pedro IV!)  

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*O comportamento que há tempos se considerava típico dos adolescentes, em relação ao grupo e à «turminha», parece que hoje tomou conta de todos. Já não são apenas os mais novos que sentem a necessidade de, mimeticamente, pertencer ao grupo; mas hoje todos parecem agir como se devessem cumprir inúmeros "musts", pois caso contrário sairiam diminuídos aos olhos dos colegas,vizinhos, amigos...

** E como há dias ouvimos de Estela Barbot.

**Enfim, este pode parecer um «linguajar ancestral», mas, já agora (além de divertido) é de arquitecto. Chamam-se assim à colação alguns dos temas que vimos terem estado na base de inúmeras alegorias, ou das «metalinguagens visuais» - de sinalizações que eram muito específicas - como estão neste caso, tantas matérias e tantos assuntos que temos abordado nas nossas investigações, e nos estudos dos últimos anos.   


14
Abr 11
publicado por primaluce, às 11:00link do post | comentar

Quando se esquece que os muitos poucos fazem muito, deixamos caír os pequenos contributos que seriam somados a um bolo comum.

Se não viram a entrevista, aconselha-se. Pois é espantoso o diagnóstico, que é técnico, mas sobretudo é de grande humanidade: absolutamente necessário neste tempo em que vivemos. 

http://aeiou.expresso.pt/estela-barbot-portugal-precisa-de-recuperar-credibilidade-video=f643623

 

Hoje o melhor Design é aprender a fazer as coisas bem feitas; numa reforma, urgente, das mentalidades! 


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