Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
08
Mar 11
publicado por primaluce, às 11:25link do post | comentar

Temos escrito aqui, várias vezes, sobre a importância de saber ver. Não temos dúvidas que a atenção no acto de ver, sobretudo novas imagens, se prende com o treino e com o exercício de observação. Ora uma das melhores formas de aprender a ver, é reproduzir aquilo que se vê, em desenho ou em fotografia. É uma acção de registo, deliberada e atenta (pois não é inconsciente), ligada às imagens que a retina, por momentos, mais ou menos breves, fixou.

Claro que quem passou uma grande parte da sua vida a ver e a observar, pode ter registos mentais, um enorme arquivo (que se chama memória visual), desses excertos, que, pelas mais variadas razões, acabou por memorizar. Isso passa-se connosco, mas, a verdade é que essa memória que alguns nos têm atribuído, é sustentada por um enorme arquivo material (e não apenas mental como parece julgarem...). É que existem chapas, pranchas, desenhos, blocos e mais blocos, negativos e muitos slides, repletos de imagens, nos quais neste momento (e sempre que quisermos) podemos estar a trabalhar, e por isso a rever.

Enfim, é também a confirmação de uma frase e de uma ideia, que desde Setembro, por alturas da aprendizagem de um novo programa informático (Moodle) nos apercebemos estar a acontecer. Os antigos e os tradicionais processos de registo, aquilo que Émile Mâle disse ter acontecido - a passagem de todo o Conhecimento à Arquitectura (e que André Grabar contrariou, dizendo ser impossível*); esses processos de registo que no passado - ao longo de toda a história - também estiveram na base da compreensão e da memorização de ideias, com as novas realidades, cada vez mais virtuais, e cada vez mais desmaterializadas, que hoje vivemos (muito apressadamente). Esses métodos que são muito mais frágeis e menos visíveis, não conseguem dar «tanta materialidade» ao Conhecimento. E, é a nossa opinião, facilitam a sua perca: a assimilação deixa de ser continuada (e demorada), e com isso muitas informações vão ficar esquecidas: fragmentos de memórias difíceis de reconstruir.

Pode ser bom e muito arrumado ter os arquivos miniaturizados, condensados na memória da mente, ou no CPU do computador, mas a verdade é que, como se diz no provérbio: "longe da vista, longe do coração". Também é verdade que nem todos captamos o conhecimento e a realidade apenas pela visão, mas, quem está nas áreas das Artes Visuais, ao estar implicado nelas, vai sobrevalorizá-las e especializar-se nos seus métodos.

Foi talvez por isso que em em 1988 ao fazer um estudo para o IPPC relativo ao Palácio de Monserrate, entendemos percorrer as principais vistas que estavam publicadas, ou eram mais conhecidas, no sentido de analisar as diferentes configurações que a mansão tinha tido.   

Vejam no nosso livro dedicado a Monserrate, a referência que fizemos a Humphrey Repton (1752-1818), um Paisagista de renome, que introduziu - a ponto de ficar conhecida... - uma nova metodologia de trabalho**: esta contemplava a demonstração (visual) da alteração que o novo projecto, ou a proposta que levava ao seu cliente, iria concretizar.

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* Em termos gerais estamos de acordo com Émile Mâle, acontecendo, parece-nos, que André Grabar, embora seja absolutamente complementar - nas informações que dá, dos trabalhos de investigação de Émile Mâle - acontece que A. Grabar não entendeu, totalmente, qual era o Conhecimento a que o seu predecessor na Academia (Académie des inscriptions et belles-lettres) se tinha referido. 

**Em Monserrate uma nova história, op. cit., p. 134, e nota nº 351, na p. 191.


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