O CV, ou Curriculum Vitae faz-se sempre com o maior dos cuidados e atenção, na medida em que regista as principais actividades e representa a experiência de vida.
Acontece, que, frequentemente, talvez porque não se valorizam as tarefas por igual, nem sempre se incluem todos os trabalhos de carácter profissional a que nos dedicamos (e dedicámos).
Por exemplo, hoje temos a noção que fizemos trabalhos que nunca constaram no nosso CV: caso de actividades equivalentes às dos «Programas SAAL», que desenvolvemos para a CMO, a partir de um Gabinete de Arquitectura (Triar), ainda antes de 1976. Trataram-se de trabalhos para bairros de génese clandestina, que actualmente são designados pela sigla AUGI (Áreas Urbanas de Génese Ilegal) – como Ribeira da Laje e Serra da Mira (agora Concelho da Amadora).
Nesses locais existem inúmeras edificações (fogos unifamiliares) que desenhámos com base num trabalho de Nuno Portas, publicado pelo LNEC, dedicado à Habitação Evolutiva. Assim, antes de termos terminado a que era então uma licenciatura, já tínhamos projectado algumas dezenas de fogos. Referências que – talvez pela forma quase natural como desenvolvemos esses trabalhos – nunca incluímos num CV.
Curiosamente, há dias encontrámos um documento (ver link desse pdf) da Associação Amigos de Monserrate, onde se faz alusão a uma apresentação que fizemos (e tínhamos esquecido) na Trienal de Sintra, organizada pela Associação dos Arquitectos Portugueses, justamente no período de transição da Associação (AAP) para a actual Ordem dos Arquitectos (OA).
Segundo dizem os Amigos de Monserrate na sua história relativa ao ano de 1998 – “…É apresentado um trabalho sobre Monserrate na Trienal de Sintra pela Arq. Glória Azevedo Coutinho.”
De novo em 2009 voltámos a fazer mais uma das várias Apresentações que ao longo da nossa vida já dedicámos ao Palácio de Monserrate (realizadas para os Amigos). Mas, nesta última data, já os nossos conhecimentos sobre o palacete de Sintra eram outros: tínhamos provado que era muito mais uma obra com origem na arquitectura europeia – i. e., na Itália Romântica, nos palácios florentinos e venezianos – do que influenciado pelo Pavilhão Real de Brighton, como J.-A. França defendeu, e todos repetiram*.
É uma longa história, que nunca ficará completa, pois não tencionamos elencar, listar ou contar, em nenhum CV – muito menos de forma sistemática, ou com datas – as ligações que estabelecemos (alguns contributos que julgamos ter dado, tendo recebido muito mais de volta), entre a nossa vida pessoal/cultural, e o conhecimento do Palácio de Monserrate.
* Em geral os seguidores de J.-A. França aprofundaram menos as suas informações, e seguiram-nas mais: i. e., nem sempre olhando para as obras com a devida atenção e espírito critico: assim repetem-se frases, e mencionam-se detalhes, que, bem vistos, nem sequer existem nas obras. Neste caso são as “cúpulas bulbosas” que o pavilhão de Sintra nunca teve. Mas, sabe-se lá se nós fizemos o mesmo, quando escrevemos sobre Monserrate há mais de 20 anos?