Toda a gente sabe que a experiência de fazer, e o tempo - a não ser que nos limitemos a esperar, por dias e horas especiais, para agir (?!) - toda a gente sabe que se todos os dias forem especiais, e todas as horas forem de verdade; ou, pelo menos, da nossa própria verdade (subjectiva ou não - a inteireza moral em que cada um sabe de si...), nessas condições, o tempo acrescenta-nos sabedoria e "Know how".
É a «mais-valia», expressão actualíssima dos dias que correm, a qual anda - de um modo (quase excessivo e) sintomático* - na boca de todos.
Mas para quem não se limita a «surfar» no quotidiano - e em todos os trabalhos, em todas actividades, é íntegro - esse aprofunda e vai mais longe: à raíz das questões, não se «desintegrando em partes»**. E, com o passar do tempo, vai acumulando saber e experiência. Isto é, vai-se enriquecendo com o que a maioria se limita a tratar pela rama. Até mesmo nos contextos teóricos - onde, era suposto teoria e prática serem vistas harmonizadas, dando substância ao Saber - pois mesmo aí, em geral, os práticos ganham aos pontos! Porque sabem fazer!
Se, genericamente falando, os nossos projectos só se constróiem uma vez (embora precisemos de várias peças desenhadas, repetidas n vezes), outros há que precisam de simulações, de maquettes, de protótipos, etc.
Quando fizemos a nossa formação, durante esse período (1969-1976) o país foi atravessado por uma enorme onda de mudança e de transformação. Eram tempos de pioneiros, e de pioneirismo, em que o Design ganhou protagonismo: um realce que até então, em Portugal, fora quase inexistente.
São tempos que estão esquecidos: diríamos que estão submersos pela fama das «novas tecnologias», que, com o seu «novo riquismo», completamente bacoco, muito têm prometido, mas, claro, dão pouco em retorno. E é bacoco porquê? Perguntarão alguns: porquê desprezar algo que é tão útil, e o resultado de tantas e sucessivas invenções?
Respondemos: Porque sem ideias por detrás das obras - algo que se pode aprender lendo Plotino*** (nos primórdios dos tempos) - as «novas tecnologias» fazem NADA!
Esse novo riquismo, ou essas tecnologias em que tanto se investe, deveriam ser vistas - é a nossa opinião - agora sim, como uma mais-valia: como a caneta que escreve melhor do que todas as outras! Ou, um conjunto de procedimentos, que - integrados no software e no hardware - é capaz de receber as nossas melhores ideias. As que não deixamos de ter, e de as trabalhar, agora em novos contextos, em ambientes de trabalho optimizados.
Então as referidas tecnologias irão permitir, com muito maior facilidade, a duplicação, ou a multiplicação, dos desenhos de que precisamos. A experimentação de protótipos, o ensaio de alternativas, etc., etc., a que a industrialização não é alheia. E, acrescentamos, muitos mais etcs., porque de facto são fantásticas; porém, não nos menorizamos face às ditas... Isso é que é «ser bacoco»: dispensar a mente, só porque se tem uma máquina!
O Design de hoje, não o esqueçamos (e há outros que muito melhor do que nós sabem disto, e podiam lembrá-lo...), é herdeiro de muito experimentalismo, de muito pioneirismo, e de muito know how. Que é/foi saber prático, vindo das Artes Industriais - que escapavam ao ensino nas Escolas de Belas-Artes, como a Arquitectura, Escultura e Pintura - e se fazia de um modo não exclusivamente teórico, nas Escolas Comerciais e Industriais (como a António Arroio é exemplo).
Ficam destaques e reproduções de mais páginas do Catálogo do INII, de 1973.
São fotografias de protótipos, e de trabalhos dos pioneiros, que é impossível não respeitar, e perceber toda a sua lógica!
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* Excessivo e sintomático, porque, é óbvio, aqueles que mais falam de «mais-valia», são exactamente os redutores!
** Houve Teóricos do século XIX - entre os quais avultam as figuras de A.W.N. Pugin e J. Ruskin - que defenderam, na continuidade de autores Antigos e Modernos, que o Design fosse «honesto» e «íntegro». Categorias que nos parecem óbvias, embora hoje se usem outros nomes, menos «moralizantes».
*** Filósofo cristão (c. 205-270), que abordou o tema da transmissão da Ideia à Matéria.