Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Nov 10
publicado por primaluce, às 09:22link do post | comentar

Pelo que é dito relativamente a “I am a Monument”, Robert Venturi defende ser essa a sua concepção de monumento, e daquilo que é visto, geralmente, como uma Construção Memorial. Na verdade, vindo de quem tem sido um eclético, é mais uma das suas «contradições»: as de um autor que deu contributos, ricos e valiosos, para a arquitectura contemporânea*.

Para quem percorre o passado, longitudinalmente, à “vol d’oiseau” como temos podido fazer, de uma maneira que é rara; dada a nossa interdisciplinaridade profissional, que existe de facto – e não vamos impedir de existir, ou calar (antes pelo contrário). Repetimos, para quem como nós adquiriu essa transversalidade, podendo unir diferentes conhecimentos, com o privilégio de perceber que as imagens arquitectónicas, e as configurações dadas aos edifícios, eram verdadeiros textos, escritos a partir de “Ideogramas”. O que é consequência directa da dita interdisciplinaridade, o resultado concreto de muitas aulas de Tecnologia de Materiais, e do conhecimento de diferentes processos de «moldagem». Assim, também podemos tirar partido dessa vantagem (como aliás vem a acontecer, sobretudo desde 2006).

Agora, face a essa experiência, e às várias deduções que temos podido fazer, para muitas obras que foram edificadas ao longo de milhares de anos, neste contexto o desenho de Venturi apresentado ontem, e a concepção de monumento (paupérrima) que ele implica; tal concepção surge pois como o equivalente a uma afirmação, deliberada, de perca.

É essa a interpretação que se faz: a de uma maneira de mostrar que muito se perdeu, e muito se «desmaterializou». É o afirmar que as formas significantes (que muitos julgaram apenas decorativas), perderam sentido. Um sentido que transitou para a Filologia**, como é explicado por um autor norte-americano, e que foi necessário usar palavras, colocando-as como referentes - i. e., um texto para explicar... - aquilo que se quer afirmar.

 

Perante isto, ocorre-nos o trabalho de um aluno (fotos acima), feito há alguns anos, e que não esquecemos, dada a sua «exuberância visual» e o muito que nos fez pensar (por estranho que possa parecer!). Corresponde, em parte, ao oposto da afirmação de Venturi. Ao sobrecarregar com desenho o seu projecto para um espaço interior, conseguiu, de facto, enchê-lo muito! Tornando-o visualmente denso, mas, sem dizer ou acrescentar nada…parece?! O que acham? Será que apenas criou «poluição visual»? Ou, por exemplo, no contraponto entre um pavimento ondulado e muito agitado, conseguiu criar uma bolsa (o espaço delimitado pela parede cilíndrica) que lembra uma “bow window” – mas, é um recanto sem janelas, marcado por uma faixa horizontal, que une – e, simultaneamente, convida à calma, e ao descanso? Uma coisa é certa, não se fica indiferente a esta proposta: ela obriga a pensar, e obrigaria a conversar muito mais, caso houvesse tempo... 

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* Ver em Robert VENTURI, Complexity and Contradiction in Architecture, MOMA, New York, 1966. Ler também em Teoria da Arquitectura do Renascimento aos Nossos Dias, Taschen, Köln, 2003, sobre VENTURI, SCOTT BROWN, IZENOUR.

** Este tema consta em diferentes entradas do Dictionnaire Critique D’Iconographie Occidentale (dir. Xavier BARRAL I ALTET), PUR, Rennes, 2003. 


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