A pergunta vem a propósito do que ontem se escreveu, por isso é preciso ler esse post. No fim, hoje vão concluir, que tudo esteve ligado, e o excesso de especialização, cortou, nas nossas mentes, as associações que existiam, e permitiam perceber as ideias que as imagens transmitiam.
Que uma torre não é apenas uma peça defensiva, sabemo-lo há muito tempo. E a melhor prova está em San Gimignano, uma cidade de Itália, onde, deve ser por mero acaso (?), há janelas quase iguais às do Palácio de Monserrate. Mas também há, e nesse caso é ainda «mais acaso», aí existem janelas - a que os autores italianos chamam bífores - e que em Portugal, até que a historiografia mude, que haja licença para fazer «descobertas», e em consequência disso dá-las a conhecer ao público (ou, no mínimo aos interessados, os professores, os arquitectos projectistas, os alunos futuros designers); essas janelas que há em San Gimignano, por cá têm um nome mais completo e pomposo: são «manuelinizantes». O que lhes fica muito bem…!
Agora a pergunta é, será que são também «manuelinizantes» as enormes chaminés do Palácio da Vila de Sintra*? Desde ontem, passámos a ter uma certeza, elas são muito mais do que chaminés; ou, peças funcionais para a extracção de fumos... Claramente simbólicas, eram torres! De que data são, essa é agora a questão que se impõe esclarecer; pois podem ser anteriores ao reinado de D. Manuel I. Vamos tentar saber, contando com algumas ajudas e colaborações que são bem-vindas.
Para terminar, e passando agora a alguma seriedade, ou pelo menos maior, a verdade é que as chaminés muito grandes, como em geral se podem ver no Algarve tradicional, e como me lembro de ter fotografado vários exemplos, expressivos, em Monchique (será que ainda lá existem?) - e também em Lisboa, próximo do Largo da Anunciada (serão do Palacete Saldanha-Rio Maior**?) - pois essas chaminés, do ponto de vista funcional, elas deveriam «funcionar» muitíssimo bem: a sua enorme altura permitiria (ou permite se as usarem...) criar diferenças de pressão muito razoáveis, na coluna de ar. Assim, ascendia facilmente e passava para o exterior.
No Verão, e no Inverno, era uma forma de manter as casas ventiladas, com um sistema de ventilação natural: essa coluna de ar estaria sempre em movimento, a contribuir para a entrada de ar fresco nos espaços interiores.
Enfim, antigas versões das courettes que hoje ficam nalguns edifícios, porém, quase estanques e cheias de tubos, que não são só de ar. Mais, essas courettes lembram os pátios pequenos das casas de regiões quentes (e não são «córetes» como é dito), desde o Alentejo, ao Norte de África.
Ora tudo isto veio a propósito de uma Divisa, a de quem ficou para a história fazendo bem. Claro que tentou fazê-lo com talento, mas aquilo que almejava, o seu verdadeiro e principal objectivo, era o BEM e o BOM! O "Kalos" dos gregos.
Despedimo-nos da maneira mais bonita que os portugueses fazem: "Bem hajam"! Vou passar umas horas numa Casa de histórias, com umas enormes chaminés, fingidas, que alguém concebeu. Citando assim uma «outra coisa», diferente da ideia original, e de que já ninguém se lembra! Ora alguns exemplos, "Revivals" e "Survivals" do Gótico, que andamos a estudar, foram exactamente isto: sobreposições estilísticas, algumas resultantes de desentendimentos! E esta?
Por nós vamos tentanto bien.faire.et.laisser.dire.gac@gmail.com
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* Já há resposta: as obras da cozinha, incluindo as chaminés, ex-libris do Palácio de Sintra, e, certamente símbolo - como se deduz - são do tempo de D. João I, pai do nfante D. Henrique. Daí a associação visual que se estabelece (um link mental de funcionamento perfeito) a partir da Divisa. Espera-se que agora se compreenda, com mais este exemplo (nascido aqui, directamente), a capacidade de comunicação da imagem; e, como vale muito mais do que mil palavras.
** Onde nasceu Teresa de Saldanha, a fundadora das dominicanas portuguesas; já que as outras dominicanas, as que estavam em Portugal talvez desde o século XVII (?) eram irlandesas, ocupando o Convento do Bom Sucesso, em Belém. Eram visitadas por viajantes, como James Murphy, que o refere no relato das suas viagens por Portugal. Lisboa é uma cidade cheia de História, onde, para quem gosta, tudo se liga, e, as conversas podem ser como as cerejas.