Este estranho título remete ainda para a apresentação que fizemos na semana passada, e na qual como é normal fomos falando no nosso trabalho sobre Monserrate - a base daquilo que estamos a fazer agora - investigando ainda em torno desse tema, porém muito mais ampliado. Esse estudo permitiu-nos atingir informações e conhecimentos verdadeiramente inesperados, que não têm sido divulgados, a ponto das pessoas não perceberem (mas muitos são eles próprios os culpados de não perceberem, e por isso não se queixem), que quando raciocinamos já estamos a partir de outras bases: i. e., daquilo que verdadeiramente supomos ter acontecido no passado; e não das elucubrações, algumas sem grande sentido, que a historiografia da arte produziu.
Note-se que a multitude de informações a que hoje se pode ter acesso, quer em enormes atravessamentos (longitudinais) do tempo; quer em aprofundamentos muito localizados em determinadas épocas, isso permite detectar que, algumas informações que nos chegaram, eram propostas erróneas (embora fossem interpretações bem intencionadas...), por vezes um pouco ao lado, daquilo que de facto aconteceu.
Ora de entre essas inúmeras «novas informações», tendo constituído logo de ínicio (em 2001-2002) uma verdadeira chave, foi o facto de nos termos apercebido de que Robert Walpole (sobrinho) era primo de Horace Walpole, e foi ele o Enviado Inglês que chegou a Portugal em 1772. Sendo este mesmo Robert Walpole - como é descrito por Rose Macaulay, em They Went To Portugal - quem sucessivamente, em Lisboa e em Sintra, dificultou a vida de William Beckford, que, muito vivamente, queria ser apresentado à Rainha D. Maria I.
Parecem ninharias das vidas dos ingleses do século XVIII, que vieram para o nosso país, com o propósito deliberado de enriquecerem. E tudo isto não teria a menor importância, se W. Beckford não tivesse escrito sobre as Abadias de Alcobaça e da Batalha, e também sobre os Arcos do Aqueduto, que foram construídos no Vale de Alcântara.
Tudo isto continuaria a não ter a menor importância, se ainda antes da chegada de W. Beckford, umas boas décadas antes, Gérard Devisme não tivesse chegado a Lisboa, quando esses arcos do Aqueduto ainda se construíam. E não tivesse ficado tão maravilhado, e tão entusiasmado com essa obra, a ponto de dar notícias para Inglaterra, enviando desenhos também, e, levando, principalmente, H. Walpole, a tornar-se um re-inventor do estilo gótico; sobretudo para a arquitectura doméstica. Mais concretamente, num fenómeno de moda - em que um novo gosto se podia espalhar - como ele fez, também como "opinion maker", inclusive escrevendo cartas, qual verdadeiro "marketeer" dos dias de hoje.
Tudo isto poderia não ter a menor importância, se William Beckford e muitos outros, não tivessem levado para Inglaterra trechos arquitectónicos e muitas ideas, que em Portugal puderam contactar, conhecer e aprofundar. Como é o caso do trabalho de James Murphy sobre o Mosteiro da Batalha.
E se alguns - eventualmente dos mais responsáveis - não percebem a relação, directa, entre o que se fez em Monserrate (também no século XIX), e a obra de William Morris, e desta com o Design, enfim, resta-nos muito pouco!
Poderíamos especular, e usar das mais elaboradas retóricas (como alguém disse recentemente), porém, só há uma resposta eficaz: trabalhar, trabalhar, trabalhar. Que é sinónimo de: ensinar, ensinar, ensinar...e, não podemos desistir.
Vejam em Monserrate, uma nova história, particularmente, a carta de Madame du Déffand, referindo-se ao "petit cousin" de Horace Walpole, que então vivia em Portugal, como British Envoy (op. cit., pp. 46 e 91). Como poderão ler, Marie de Vichy-Chamrond, marquise du Déffand, vai muito além do "Honnit soit qui mal y pense", que todos repetiriam, e com que hoje acabamos...
Existe uma óptima colecção de fotografias do Aqueduto, feitas por Mónica Freitas, mas esta, ainda, não é esse caso...