A propósito do "Entrelaçado" que ontem assinalámos, e sobre “Le Dieu lieur,…”, título que Mircea Eliade deu a um capítulo de Images et Symboles (obra inicial de 1952, renovada em 1980, Éditions Gallimard, op. cit., p. 130), vejam, e oiçam também, sobre as razões do seu optimismo. Em:
http://www.youtube.com/watch?v=2ofkZK1VLeA
Notas e reflexões, entre a semana que acaba e a que começa:
1. No Avant-propos de Images et Symboles, de Symbolisme et psychanalyse retirámos uma ideia com a qual estamos totalmente de acordo: “C’est donc l’Image comme telle, en tant que faisceau de significations, qui est vraie, et nom pas une seule de ses significations ou un seul de ses nombreux plans de référence.”
Mas, há que o explicar: muitas vezes vamos estar a destacar, aqui, principalmente, aquilo que «descobrimos» ao fazer o trabalho sobre Monserrate. Porém, apesar dessa ênfase ir acontecer com frequência, agora e no futuro, também não deixamos de reconhecer a correcção daquilo que Mircea Eliade escreveu (o texto citado), a insistir na existência de um amplo feixe de significados, em simultâneo, e não apenas num só sentido. Por outro lado, há que admitir (sabêmo-lo), que alguns desses sentidos, ou planos de referência, uns são mais importantes, e predominantes, acima de outros. Tal como foi explicado por vários autores e estudiosos dos textos bíblicos - exegetas como M.-D. Chenu, H. De Lubac (também explicado por Umberto Eco). Assim, claramente, insistiremos nas nossas ideias: que, repete-se, não são de sentido único!
2. Tem sido referida uma certa dificuldade no entendimento de alguns textos aqui colocados. Tentamos expor e tornar claras, várias noções, que são muito complexas. Mas, sobretudo, elas são completamente novas. Aliás, as dificuldades que temos, em especial a incompreensão vinda daqueles que deveriam ser os principais colaboradores - e os maiores motivadores do empenho, que tem de ser colocado num trabalho de doutoramento, para chegar ao fim - as nossas dificuldades, entroncam, exactamente, nesses dois pontos: a complexidade do tema, e uma grande falta de cultura (geral). É que, independentemente, das crenças individuais, colectivamente a sociedade teve percas muito significativas, ao nível da cultura geral (e tradicional). Dito de outra maneira, pode-se afirmar que houve um crescimento, e uma evolução, mas, é sobretudo material. Evidentemente, está-se perante um «novo riquismo», onde o indivíduo, parece ter evoluído de um modo incompleto, e desiquilibrado, não cuidando da sua totalidade. Aparentemente, e em muitos casos (é uma opinião nossa), estamos perante pessoas cujas formações, embora sejam de nível superior, se mostram repletas de falhas: longe de se poderem considerar formações gerais, ou, sequer, completadas.
Em consequência, muitos dos que hoje estão em lugares de responsabilidade, desconhecem, absolutamente, as bases culturais da área geográfica em que estão inseridos. As bases culturais que eles próprios têm que continuar a promover, e o Conhecimento que têm que estar a apoiar, colaborando na prossecução do desenvolvimento (por exemplo com instituições internacionais, ou, as que «cá dentro» dão apoios como bolsas de estudo), para que se ampliem esses Saberes: dos quais, contraditoriamente, eles mesmos, os responsáveis, pouco ou nada sabem!
Porque as sociedades - como mostram as Ciências Sociais e Humanas - não se movem por razões incompreensíveis, que não conhecem, e no entanto se contabilizam, ou delas «fazem estatísticas». As sociedades colectivamente, e os seus elementos, cada um por si, podem estudar-se. Já que se movem na sequência de outros movimentos, de ideias e de razões individuais, de produções que se hão-de tornar colectivas. Aliás, a sua principal característica - dada a imensidão de inter-relações existentes (e é isso que ocupa os estudiosos das Ciências Sociais e Humanas), é a análise, estudo e classificação, de vários movimentos, simultâneos, e por vezes difíceis de definir. E só depois, no fim de grandes trabalhos, estando perfeitamente caracterizados os fenómenos, é que os mesmos são contabilizados. Uma tarefa final, que, relativamente ao todo, é facílima de concretizar! Desde que tenha havido antes, de facto (e sublinhe-se, porque isto é essencial) a capacidade de diferenciar e de classificar, o que depois se vai quantificar.
Claro que os que pensam ao contrário, fazendo desse cálculo a essência de um estudo (!?), não podem compreender, minimamente, o valor da investigação em Ciências Humanas; ou, no nosso caso, o trabalho, cheio de surpresas, que decidimos empreender. Por isso a pergunta deixada ontem: Porquê? Como é possível falar-se em «Cultura Visual» - um conceito perfeitamente válido, embora muitos não o compreendam - se se ignora a história das imagens. E a sua relação, fortíssima e fundamental, com a cultura tradicional. No caso a europeia, e depois outras..., em que, globalmente, estamos inseridos. Imagens que eram edificadas, e assim concretizavam o essencial das «mensagens a fazer passar»!
3. Agradecemos ao colega Rui Cunha as informações, interessantíssimas, que nos tem dado, relativas a - As Medidas da Arquitectura. Havemos de continuar a conversar, pela complementaridade que se detecta entre os nossos trabalhos. Para já acho que estou a ganhar, prometo vou retribuir.
Agradecemos a um colega ter referido a existência de PrimaLuce (este blog), na sua Agenda Semanal !!!
Pelo nosso lado, é para fazer frente às incompreensões que acima referimos, relativamente ao tema de trabalho que devíamos estar a desenvolver, com o devido apoio - são estes motivos, como ganhar espaço e lançar bases para a compreensão desta temática fascinante - que nos fizeram criar o blog.
Como ficou na Síntese Final do trabalho dedicado a Monserrate (ver no perfil), defendemos que a História da Arquitectura do Ocidente Europeu, é uma história de organigramas (ou ideogramas), gerados pela Teologia Cristã, em diferentes épocas. Conforme o enfoque que a Igreja - e com ela as principais nações, que a tinham como modelo, inclusive modelo dos seus imperadores, dos reis e dos nobres - foram sentindo, que era mais ou menos necessário (em cada época), ir fazendo. Para irem transmitindo a sua própria Cultura.
Um tema inovador como este é, surgido a propósito de um edifício que tem tudo para o dar - caso do Palácio de Monserrate - não se abandona à sua sorte! Por isso, só se justifica a indiferença, face às muitas exposições e explicações que foram feitas e dadas (e à sinalização específica do trabalho feita pelo orientador) num contexto de grande desconhecimento...
Embora, com Mircea Eliade, possamos ser optimistas, no entanto não deixamos de ver ao que chegou a realidade cultural em que estamos imersos: a redução a um minímo, inimaginável! Sabemos que não vale a pena perseverar, ou, teimosamente insistir, quando o melhor é dar a volta...
Observar e desenhar, dá-nos conhecimento e vantagens: não perdemos o contacto com a realidade, a natureza, as orquídeas,
todas as flores hão-de abrir, e dar a ver a sua Beleza.