Alguns de nós, quando contamos histórias, ou até mesmo quando damos aulas, sabemos que haveria um «mundo» de elementos, interminável, que seria necessário continuar a elencar. Necessário para que a história ficasse completa, ou, para que os alunos ficassem totalmente informados sobre determinado assunto. Então a quantidade de informação em torno de um qualquer tema, é, por isso, frequentemente, imensa; «quase infinita»...
Ora em termos práticos (parece-nos?), o melhor é pensar que essa informação é incontável, e passamos logo a resumir.
Umberto Eco – baseando-se nos seus conhecimentos de Teologia Medieval, e por saber que desde há séculos (muitos) as Escrituras são lidas e interpretadas de acordo com 3 sentidos principais, aos quais alguns autores acrescentaram um quarto sentido – por isto (que não é pouco, mas tentamos sintetizar) o autor italiano escreveu a Obra Aberta. Nela mostra que todas as obras estão sempre «em aberto», sendo acabadas pelas diferentes interpretações daqueles que as vêem. E essas, muitas vezes, são - já eram, e tornam-se assim ainda mais - em verdadeiras exegeses (teológicas): as que cada um entender fazer.
Melhor dizendo, "as que cada um quiser...", mas, claro, dentro de determinados limites. Isto é, dentro dos limites que são definidos pela lógica, pelo senso comum, e, principalmente, os que se baseiam nos parâmetros que os Quatro Sentidos contidos nas Escrituras fornecem (como «regras de interpretação»*).
Master Francke que viveu em Hamburgo, entre c. 1380, e c. 1436, foi o autor da Natividade que escolhemos para evocar a época do ano que estamos a viver. Ao que é dito**, grande parte da sua obra foi destruída pelos Iconoclastas, durante a Reforma. Tendo sobrevivido, de entre vários trabalhos, os Painéis do Altar de S. Tomás Becket, de que a imagem acima faz parte.
Poderão pensar que já conhecíamos esta obra, e que dela temos mais informações? Nada disso, vimos e escolhemo-la de imediato. Porquê? Pelas cores, e pela simplicidade, que um certo abstraccionismo – também colocado na reunião dos vários elementos – permitiu introduzir na composição. Levando assim a uma síntese, que, tudo faz crer ser fascinante (note-se que o tamanho real é de 0.99X0.89m).
Cada um fará deste trabalho as suas interpretações; mas, depois de termos constatado que a maioria das obras tenta responder – ponto por ponto – às principais ideias e às noções teológicas que em cada época eram essenciais, e se pretendiam transmitir (devendo acrescentar-se que para o caso do Dogma da Trindade, essa preocupação atravessou todas as épocas). Assim, face a essa constatação, que passou a ser um dado apriorístico de todos os nossos raciocínios, temos que perguntar: onde está, e a que elementos iconográficos corresponde; ou, como se fez na imagem acima, a representação do Espírito Santo?
Ora pelo que vemos, só uma hipótese nos ocorre: será a filactera que se prolonga, e que nessa continuidade desenha um «8» deitado?
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*Exégèse Médiévale, Les Quatre Sens de l’Ecriture, Henri De Lubac, Éditions Montaigne, Paris, 1959-1962.
** The Yale Dictionary of Art & Artists, por Erika LANGMUIR & Norbert LYNTON, Yale University Press, 2000.
Gótico, Robert Suckale, Matthias Weniger, Manfred Wundram, Taschen, Köln, 2007.