E o post de hoje é «uma migalha» sobre os últimos Planos de Fomento Nacional, que planearam o país que fomos e ainda hoje somos:
Para quem como nós começou a trabalhar há 40 anos, em enquadramentos que os documentos seguintes tão bem elucidam (vejam os links* e explorem outras ligações associadas); se hoje - em 2012 - parece que estamos num outro mundo e numa realidade totalmente diferente, no entanto também proliferam imensas semelhanças, com o que se passava e foi há 50 anos. Será um estado de espírito? A sensação de ser necessário começar de novo, face à destruição e alienação do que foram valores constituídos ao longo de 50-60 anos...**?
Este PREC é um «Segundo Estado Novo» a destruir o «Primeiro», e o que os sonhos pós-25 de Abril conseguiram edificar? Certo que a envolvente mundial é outra, mas há que romper? Não conseguimos fazer transições e transformações... É tudo o que quotidianamente não se mudou, e não se fez certo, que agora se tornou urgente? Andámos a dormir...?
Mas se muito mudou, se fomos espectadores (participantes) dessas mudanças, há pontos nesta inflexão que não esquecemos:
Quem leu Orlando Ribeiro e as suas descrições do território português? Quem vê, ainda hoje, as mudanças essenciais que os Estudos de Jorge Gaspar permitiram introduzir? Levando a um muito maior aprofundamento das questões, e ao evoluir para um outro nível no estudo do território, que suporta as actividades e as vidas das populações? Tudo isso foram apenas estudos no papel, que não passaram ao território? Que PDMs não foram subvertidos ao sabor de clientelas?
No Portugal de hoje (em que há que recomeçar, e corrigir erros recentes) quem se interessa por compreender o muito que mudou; o que explodiu e irradiou em inúmeras direcções? O que se desarticulou e vai precisando de ser primeiro compreendido e depois re-unido? A tal cola que referimos no post anterior e que outros países, como é o caso da Holanda, também procuram.
Se pensarmos nas pessoas, em Antropologia e Religião, somos levados a pensar em Mircea Eliade: nas semelhanças que sentiu entre Portugal e a Roménia: como o facto de sermos periféricos relativamente ao Império Romano (e ao que se lhe seguiu), obrigou a aprofundar «uma certa romanidade».
Sobre (Re-) e Industrializar o país, os maiores erros são os mais recentes? Dos últimos 15-20 anos, ou vêm de trás? Que geração (ou que grupos geracionais?) se instalou e desviou dos caminhos que vinham a ser feitos, não percebendo que havia que consolidar políticas e transformações que eram esforços de industrialização pioneiros? A Revolução Industrial Inglesa foi um modelo replicado pelo mundo fora, a outras escalas e com outras «intensidades». É claro que apesar de estarmos na Europa, o chegou aqui foi posterior, e em muito menor escala, do que sucedeu nos Estados Unidos por exemplo. Em que medida a luta política (no contexto do século XIX, e depois muito diferente no séc. XX e já no XXI) e a instrumentalização - ou o afastamento e silenciamento - das populações têm contribuído para atrasar o país? E qual o grau, se é que se pode atribuir um valor/número à corrupção, para os desvios sucedidos? Leiam o que eram as preocupações em 1971 e 1972:
entre o balanço/avaliação do III PLANO DE FOMENTO NACIONAL e o implementar do IV PLANO DE FOMENTO NACIONAL.
Revejam a nossa história recente. Pensem sobre alguns dos documentos seguintes
(que parecem feitos no joelho; não mais do que meros esboços para os estudos a fazer depois?)
Há/houve gente séria, normal e competente, verdadeiramente dedicada ao desenvolvimento do país? Há, entre os cidadãos comuns quem tenha lido o acordo que PS, PSD e CDS assinaram com as instâncias internacionais, chamadas TROIKA? E depois desse plano de emergência - Memorando de Entendimento*** - o que é que se segue? O que é que vai definir os nossos caminhos? Ficamos aqui a definhar? Ou temos vontade para objectivos específicos?
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*http://www.dpp.pt/pt/base-de-dados/Arquivo-historico/Paginas/IV-Plano-de-Fomento.aspx
**Será o ambiente autoritário, totalitário e fascizante? Será também o ambiente que se vive nos transportes, em especial na linha do Estoril? Será a necessidade de ser mais imaginativo para contornar os problemas e as dificuldades? Será uma necessidade de refúgio (interior), para tentar esquecer e tornar abstracta a envolvente redutora e paupérrima, da estupidez e do ilógico, que é imposto? Será mesmo uma necessidade de encontrar respostas, para necessidades concretas? Às quais a pouca indústria, o comércio e as tecnologias do «entretenimento digital» não respondem; não dão a menor satisfação e sobretudo não criam riqueza? Criar as suas próprias actividades profissionais num ambiente em que o trabalho tradicional se «desconfigurou»? Ensinar os que estão à nossa volta para que a perca não seja total, e de algum modo nos sintamos recompensados? Voltar ao tempo em que fizemos apontamentos de estudo para os alunos e redistribuí-los?
Se uma re-industrialização voltar, como há dias escrevemos, onde estão os designers e os técnicos, que hoje dominam sobretudo o visual e os seus modos de produção, estando falhos noutras áreas?
É completamente diferente fazer desenhos e bonecos a retratar o Bairro Alto e a Cultura Popular, ou fazer produtos de materiais compósitos e objectos transformados, para a indústria e exportação...
***http://downloads.expresso.pt/expressoonline/PDF/memo_troika.pdf
Que o ANO NOVO nos acorde