"Encounters" assim se chamava uma exposição que vimos há anos na National Gallery*. Muito mais tarde, ao escrever o trabalho sobre Monserrate, várias vezes recordámos essa exposição. Pois tínhamos a noção que os Revivalismos do Gótico muitas vezes foram diálogos feitos com base no século XVIII, ou, preferencialmente no século XIX, com as obras do passado: algumas 600-700 anos antes.
Nessa exposição da National Gallery explicava-se que a proposta foi feita aos autores, visando, em parte, a recolha de novos olhares sobre o passado; assim como a hipótese de se redescobrirem os métodos que os autores iniciais - por exemplo um dos autores «trabalhado» foi Jan Vermeer - poderiam ter usado para «construírem» as cenas que pintaram.
Há dois anos assistimos a um filme de Manuel de Oliveira, de 7 a 10 minutos, que, peça a peça, e analiticamente, «desmontava» os painéis de S. Vicente, do pintor Nuno Gonçalves.
Aliás, o mesmo foi feito por J.-A. França, numa descrição que é talvez pouco conhecida, mas que em nossa opinião vale a pena ser lida.
Acontece que há alguns meses atrás conhecemos este trabalho do Paulo Andrade, que está na mesma linha; mas cuja «simplicidade», breve, sintético e directo (sem perca de tempo com palavras supérfluas e inúteis) é impossível não surpreender!
Entre as visões que lemos (de J.-A. França), as sequências de imagens de Manuel de Oliveira, e as inúmeras especulações dos mais variados autores, a síntese de Paulo Andrade - quase instantânea, quase silenciosa - é muitíssimo eloquente. Mais, ela pode tornar-se na metáfora óptima, capaz de encerrar (ou apenas calar por um tempo...?) as dúvidas eternas à volta dos Painéis?
Com a sua ideia de uma realidade - que é a imagem invertida e apresentada a cinzento - da qual se extrai a cor e a nitidez que conhecemos, e que uns mais do que outros (ininterruptamente) captam, parece um «lembrar» da Caverna de Platão. Será?**
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*http://www.studio-international.co.uk/reports/ng_encounters.asp
** Ou esta interpretação é só nossa, e provavelmente abusiva? De qualquer forma, e a riqueza dos bons trabalhos é essa: à volta de uma obra de Arte, quanto mais gostada e reconhecida for, mais ricas, e em maior número, serão as suas interpretações. Parabéns, esse olhar para os Painéis é um encontro de tempos diferentes: um diálogo criativo (i. e. o que cria), e portanto muito útil!
http://interferencias.org/wp-content/uploads/2012/01/Poliptico_Paulo-Andrade.jpg
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