Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Mar 14
publicado por primaluce, às 00:00link do post | comentar

A expressão acima - Janelas à Siza - pusemo-la num motor de busca e apareceu a newsletter da Saint-Gobin.

 

Só que o nosso objectivo não são os vidros, mas evidenciar a complexidade que pode estar no desenho/projecto de uma janela. Por isso, em parte serve, e assim fica o link*.

O objectivo central é alertar para aquilo que alguns seguem - à boa maneira, habitual e acrítica: neste caso sem se aperceberem que é uma das marcas de Siza Vieira, e não forçosamente a única forma de recuperar o património arquitectónico.

Mais, parece-nos que entre alguns autores e também «mestres ligados à construção» se instalou a ideia de que as madeiras devem ser usadas em vez do alumínio, mas que os seus perfis, talvez para serem mais visíveis (sabe-se lá qual é a razão...?), devem assemelhar-se ao design muito mais simples que actualmente prolifera no mercado: seja ele de metal ou de algum polímero. Dito de outra maneira, até usam a madeira, mas não aproveitam as sua potencialidades: fantásticas! 

E ao dito polímero há que não chamar «plástico» (por ser coisa vulgar, designação depreciativa).

Deve dizer-se PVC, ou ainda com a especificação U.PVC.  Claro que estes são assuntos que se prendem com Química, e com acabamentos que podem aumentar a resistência do referido plástico (como é o caso do U., acrescentado ao PVC).

Adiante:

Todo este tema é amplo e exige várias especificações, com alguma (ou grande dose de) sabedoria. Para por exemplo, se perceber qual é o verdadeiro custo ambiental do alumínio anodizado; ou o dos diferentes plásticos e inclusive também o custo da madeira:  um material que a natureza, generosa, pode sempre renovar!

É todo um assunto que, neste nosso país em que se devia fazer muito mais recuperação do património edificado (independentemente do seu valor artístico), em geral não vemos tratar: nem a arquitectura nem a engenharia. Mas que merecia ser tratado, objectivamente, e de um modo científico, para depois serem produzidas indicações e normativas que fossem correctas e úteis, para arquitectos e todos os que decidem e empregam na construção os referidos materiais...

Enfim, repetimos, é um assunto imenso a exigir muita competência, mas o lado que nos interessa agora é apenas o do Design Urbano: i. e., o lado da imagem na cidade, que todos julgam ser o mais fácil...

E de facto é, se forem técnicos que sabem muito pouco: como cruzar competências, e conhecimentos de disciplinas diferentes (o que é essencial!).

 O tema interessa-nos, especificamente, porque aquilo que Siza Vieira introduziu na Recuperação do Chiado e agora se vê estendido a outras zonas (como se devesse ser uma regra, e por isso escrevemos que muitas vezes, acriticamente, lá vão todos atrás de uma ideia única, que virou moda!). Em suma, esse seu «modo» criou de facto uma moda que corresponde agora ao abolir das bandeiras dos vãos: sejam elas de janelas de sacada, com varanda ou sem; e também nas próprias janelas mais baixas (chamadas janelas de peito/parapeito).

Ora isto faz com que - combinado com uma maior dimensão da largura das couceiras (e ainda, seja qual for o material, também dos pinázios, se existem); repete-se, isso faz com que a imagem criada - e no contraste cromático que resulta entre a zona envidraçada (escura) e o caixilho (em geral mais claro) - deste modo afirma-se uma verticalidade que, à partida, não era da imagem inicial; ou, que também não era a expressão de dimensões (e proporções) do edifício: como quando foi construído.

Mais, nós que nunca fomos «muito dados» às regras de proporções vindas do passado (as que hoje todos procuram seguir, no design dos elementos construtivos), no entanto, e apesar desse nosso distanciamento - temos que evidenciar, aos que andam distraídos e não o notam - que na arquitectura lisboeta (e no Porto também, mas com outra «regularidade») há proporções que são muito palladian. 

Visto que a Reconstrução Pombalina se inspirou no georgian (inglês): um estilo que tinha tido enormes preocupações - e em que se discutiu muito - sobre o bom e o mau Gosto. Como há diferentes tipos de gostos (ou «paladares» - também para a visão), que neste caso, como estamos a abordar a questão, é meramente sensitivo.  

É verdade que o post de hoje é sobre um tema que em geral todos desconhecem, porém, a nossa vontade de "bien faire" (que não implica querer agradar a quem quer que seja...) faz com que não estejamos calados.

Isto é, seja solilóquio - a falar para dentro, ou para fora (?) - não deixamos de pensar; e se parece lógico e coerente não se cala. 

Podendo acontecer, e não é a primeira vez, que de repente numa conversa quase banal, alguém choca com... - e se apercebe de... - a força dos nossos argumentos... Que outros acham útil continuar «a velar e a esconder»! Problema desses, porque...

...se um dia a loiça se parte (com estrondo?) não temos culpa**.

 

 

Edifício fronteiro ao Teatro Nacional de S. Carlos, onde Fernando Pessoa nasceu***. Tinha originalmente bandeiras em leque (e não rectas como são agora); eram com vidros coloridos (de que nos lembramos bem). Nos anos 80-90 teve obras que «uniformizaram» a fachada e aboliram os referidos vãos. O mesmo se passando com as grades metálicas das varandas... 

Neste caso as bandeiras ainda existem, e as janelas envidraçadas ainda têm pinázios. No entanto, como parece fácil de compreender, a imagem do edifício está longe da que teve de início. Move-nos algum saudosismo? Não, mas claro que ver edifícios que foram (bem) pensados para terem uma certa harmonia visual; vê-la ser destruída, pela incompreensão de uma série de "links" (visuais - essenciais) que tinham essa função ao nível da leitura da imagem****  mas foram suprimidos, claro que custa...   

Como custa corrigir os erros alheios em público:

Tem que ser? É tarefa de professor...  

 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*http://pt.saint-gobain-glass.com/newsletter/2008_files/abr2008_02_home.html

**Se houvesse lógicas de competência e responsabilidade a loiça ao partir-se devia provocar algum estrondo. Mas este é um país de segredinhos, em que cada um convive muito bem com as suas "mediocridadezinhas", já que sabe que o vizinho também as tem (escondidas).   

***http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=4286

****Ver: http://fotos.sapo.pt/g_azevedocoutinho/fotos/osaltera-express/?uid=gom9QmYGOZZVtoKPCMCt

http://www.architecture.com/LibraryDrawingsAndPhotographs/Palladio/PalladianBritain/PalladianInteriors/PalladianPrinciples/Proportion/Proportion.aspx


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