Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
29
Dez 15
publicado por primaluce, às 00:00link do post | comentar

Sim, pobres coitados que nós todos somos, quando vamos pondo tudo dentro de uma única Caixinha, sem mais hipóteses...?

 

A arquitectura foi muita «coisa», inclusive "Machina memorialis" como tão bem provou Mary Carruthers.

Émile Mâle também colocou exactamente esta questão, embora de outra maneira bem diferente, referindo-se a uma materialização da Bíblia, que ficou concretizada nas formas arquitectónicas.

Quando agora todos nós escrevemos muito menos - o que desde as nossas 1ªs classes (i. e., desde os 6-8 anos de idade) sempre foi um modo de memorizar; quando agora retiramos da frente (dos olhos) muitas das coisas de que nos devíamos lembrar, e portanto se aplica o "Longe da Vista: longe do Coração!"...

Sim, com estas técnicas nossas contemporâneas de tudo ir desmaterializando - e apetecia meter aqui, agora, a Quilha da Arca de Noé...* - deste modo, é verdade que está tudo dentro de uma única caixinha (arrumadíssimo é verdade), a qual, se nos falhar, também nos leva tudo!

Memórias? Cadê? Psssssss...,

Evaporaram-se!

E o que podem ter a ver as Neurociencias, "avec:

L’évolution de nos bureaux"?

Depois, e como prova de que o ensino (e a memória) sempre precisou de imagens e diferentes «materiais didácticos», o link acima levou-nos a produções de outros autores (que não nossas), ajudando a pensar no que se anda a fazer. Neste mundo novo que andamos a desenhar/criar:

Assim, claro que esta é uma questão de Design..., e da Memória

~~~~~~~~~~~~~~

*Vinha mesmo a propósito este assunto, que é aliás bem divertido:

Já que Maria João Baptista Neto ficou muito zangada por termos aludido a essa machina memorialis (ou metáfora - a dita Quilha) na nossa tese sobre Monserrate, tendo chegado ao ponto de «nos corrigir». Ora quem ler James Murphy e o Restauro do Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XIX, da autoria de Maria João Baptista Neto, Editorial Estampa, Lisboa, 1997, lá encontrará, nas pp. 26 e 38, a referência a essa Quilha. E, acontece que a mesma já foi objecto de estudos (só) um pouco mais eruditos do que os de Maria João Baptista Neto. Aqui, não desfazendo, claro! Até porque aprendemos imenso com essa Professora (que fez um transporte de informações, em minha opinião fabuloso, e do qual, agora, estará arrependida?), e apenas o IADE, entre «outros», quer continuar a esconder este facto!


30
Mar 12
publicado por primaluce, às 20:00link do post | comentar

Neste exemplo a identificação é total. Ninguém olha para o objecto final (foto abaixo), ignorando de onde vem a sua forma e inspiração.

Óptimo, porque aqui os olhos e a mente não precisam de fazer um grande esforço tentando lembrar e identificar a fonte original de onde este objecto provém.

(ver Primaluce em 28.03.2012*)

Pelo contrário, aqui a semelhança com as formas naturais é tão grande que se pretende dizer/sugerir algo mais às crianças. Ajudar a pôr a sua imaginação criativa a trabalhar: deixá-los inventar histórias e sonhos, talvez vividos no fundo do mar, ou num casulo de insecto, ou também, e porque não, um "just pretending" em que a sua casinha de bonecas é redonda: "...aqui fica o quarto, ali a sala, ali a cozinha..., a porta é oval... para espreitar o mundo exterior..."

E, etc., sonhem também, que faz bem!

Vejam fotografias e pensem no muito que vemos, mas que, simultaneamente, nos escapa:

http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/5535.html

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*HAWK - Hochschule für Angewandte Wissenschaft und Kunst   

 Catálogo - Winter 2011/2012, p. 82


03
Mai 11
publicado por primaluce, às 17:00link do post | comentar

De facto, no último post acabámos abruptamente, por saber que estávamos a deixar muito material óptimo para pensar.

É que na verdade também sabíamos que haveria muitissimo mais; daí a necessidade de acabar, para depois recomeçar. E recomeça-se por aqui:

1. Em Londres as cerimónias de um casamento dito do século XXI, mas que decorreram num cenário com cerca de 800 a 900 anos.

E neste caso havia ainda a escolha da data - 29 de Abril, dia de Santa Catarina de Sena - mística e doutora da Igreja, que influiu grandemente na história do tempo em que viveu*.

2. Logo depois, nos dias seguintes, a agenda mediática passou a estar ocupada com outros assuntos a que também aludimos no nosso trabalho: a atitude de João Paulo II**. Ora, para cada um de nós, e independentemente das suas crenças, aquilo que nos é dado ver, é, exactamente, a importância da tradição e do passado, nos actos públicos (e na vida em geral) da nossa própria época.

Ainda sobre o casamento londrino, houve quem tudo resumisse à expressão que nos acorre várias vezes: "tradição e modernidade". Porém, se nos déssemos ao trabalho de analisar muitos outros factos, incluindo também a vida do cardeal polaco, que foi Papa, poderíamos notar que todo o presente é feito de passado. É com os ingredientes e com as referências que apreendemos no passado (até ontem), que hoje podemos pensar. E depois falamos, escrevemos, e desenhamos ou projectamos, com esses referentes!

Porquê esta insistência, e estas nossas reflexões sobre o assunto «Passado»?

Porque, com enorme frequência, é possível observar que alguns «modernos-contemporâneos-ferrenhos» julgam que só há modernidade se fizerem uso sistemático da novidade. Isto é, daquilo que é criado de novo. Talvez tenham razão..., mas não conhecemos muitos exemplos?

Em contrapartida, não faltam, e tornaram-se memoráveis, os casos em que as obras foram buscar elementos do passado. Sendo estes introduzidos em contextos contemporâneos. Esses exemplos tiveram depois reconhecimento, ou até êxitos, que não se podem desprezar.

Mais, aquilo que hoje percebemos terem sido os Estilos Artísticos e Arquitectónicos, são «escritas» que se socorreram de um número limitado de vocábulos (que eram imagens), para transmitirem mensagens específicas: características da Teologia Cristã (ou a catequese), de cada época...

A seguir citaríamos Regina Anacleto, e o que escreveu sobre a Arquitectura Neomedieval, nas suas diferentes fases. Não se apercebendo a autora que o espírito que esteve subjacente às obras do século XVIII, em geral é diferente do Revivalismo do século XIX; apesar de ambos irem buscar o passado! 

Mas damos outro exemplo: quando Josefa de Óbidos incluiu nos seus trabalhos as Amêndoas, hoje consideradas características de Torre de Moncorvo (pois aí continuam a fazer-se à maneira antiga), talvez pretendesse aludir ao mesmo sentido que está na Mandorla, que envolve as imagens de Cristo Pantocrator, características das obras do Românico Proto-Gótico? Perguntamos, porque ao certo não sabemos... 

Mas hoje, em geral, quem come amêndoas na Páscoa, desconhece que a Amêndoa também simbolizou Cristo, e depois a sua Ressurreição. E no entanto, quem é que por esta altura não viu amêndoas, ou não as teve, na mesa de festa?

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*Sobre Santa Catarina de Sena, ler a história da sua vida em VELBC (Enciclopédia Verbo), v. 4, c. 1503.

**No nosso trabalho dedicado a Monserrate, recordamo-nos de ter feito referência a dogmas e outras definições teológicas. Demos o exemplo das atitudes de J. P. II, mais favorável à inclusão; ao contrário do que se passou no passado (na época medieval), quando, tantas vezes, a pretexto da não aceitação das ideias que a Igreja considerava ortodoxas (ou correctas), quase de imediato era decretada a exclusão (ou excomunhão), de quem se colocasse na situação de heterodoxia. Ver Monserrate, uma nova história, op. cit., p. 157.


26
Abr 11
publicado por primaluce, às 09:30link do post | comentar

Sobre Pensamento uno naturalmente todos perceberão a ideia a que nos referimos. Já o Pensamento sincopado pode prestar-se a confusões visto que a analogia vem da música, mas sem estarmos a pensar em ritmos... Quando dizemos Pensamento sincopado referimo-nos aos momentos de silêncio, e aos vazios aparentes, entre as outras realidades mais fortes, que contrastam com o intervalo (síncope ou paragem), mesmo que mínimo, em que pode não haver som*.

Voltemos ao Pensamento uno, que é completamente diferente de «Pensamento único». Em nossa opinião, tal como já referimos há dias, e é isso que nos mostram quotidianamente muitos inexperientes (gostam de ser vistos sábios e doutores...); em nossa opinião a sociedade de hoje vira-se para o que é propagandeado, publicitado e mais falado. E sabe, quase o zero (absoluto a -273ºC, ou 0ºK), de tudo o resto! Não ligam, ou fazem interagir**, as várias noções que devem ter aprendido? Pelo menos supõe-se.

O Pensamento dessas pessoas, verdadeiras caixas de ressonância daquilo que lhes é alheio, não são ideias articuladas; não são realidades conectadas, e com gaps mais ou menos preenchidos: mas são, sim e apenas, ideias soltas. Essas pessoas, de tanto se especializarem, não conseguem formular pensamentos mais ou menos completos, pois não vêem mais nada, e pouco mais conhecem, para além das suas especializações!   

É claro que se há ambientes - a Universidade, e as Empresas - em que isto muito se nota, porém vai afectar a sociedade em geral: a comunidade, o país. Muitos referem por vezes que os governantes e os políticos que vão para a AR não têm experiência de vida, que só viveram dentro dos partidos, onde fizeram carreira... Mas, a verdade é que hoje as nossas sociedades evoluíram para um excesso de especialização, onde não há transversalidade (nenhuma)! A ponto de ninguém se meter nos «assuntos dos outros», como se houvesse barreiras intransponíveis e não fosse possível, ou muitíssimo útil, saber um pouco de tudo?!

~∞~∞~∞~∞~∞~∞~∞~∞~

*Aqui ocorre-nos uma explicação que recentemente ouvimos, vinda de António Vitorino de Almeida: como os estilos e os ornamentos da arquitectura vienense lhe foram úteis, ajudando-o a compreender a música. 

**Actualmente temos detectado que se usa e abusa deste verbo - «interagir», que bem usado é inteligente e útil. Mas, quando usado por tudo e por nada, faz de todos nós uns (macaquinhos) básicos: as mesmas ilhas soltas de unidades únicas (próximos das "monades" de Leibniz?)... Assim, os alunos e os mais novos, hoje preferem interagir, em vez de «falar com», ou «conversar», ou «entregar», ou «dar». Até mesmo «ensinar», «aconselhar» e «confratenizar», para muitos é igual a «interagir».

A Páscoa é muito mais do que um Domingo, sobre amêndoas e mandorlas havemos de explicar porque se comem agora; também porque passaram para os escudos, esferas armilares, etc.


06
Dez 10
publicado por primaluce, às 11:16link do post | comentar

Não se trata de dispersão, continuamos a querer abordar a mandorla, como forma resultante de um esquema ou organigrama para traduzir uma certa ideia (i. e. - a chamada "dupla procedência do Espírito Santo") da Trindade Cristã.

Continuamos a querer explicar como, sucessivamente, e para além da arquitectura, a mandorla foi introduzida em diversos objectos utilitários, conferindo-lhes valor significante. É claramente uma questão de design (mesmo antes de este existir). Dir-se-ia, por exemplo, que é uma questão de «sinalização visual».

Mas, deixemos as nomenclaturas, porque se pode sempre recorrer a inúmeras designações, embora naturalmente, umas possam ser mais adequadas do que outras...   

O título que escolhemos - "Os mais altos valores" - tem a ver com o facto de todos nós, ao longo das nossas vidas podermos eleger algo, geralmente são valores, que nos dão segurança*; que nos escondem e protegem das adversidades. Dir-se-ia, que são muralhas e escudos, a origem de uma fortaleza que nos guia vida fora: nos bons e nos maus momentos. 

Temos estado a escrever, tendo apenas na memória a imagem que agora vamos inserir. No entanto, quando o leitor ler este post, não vai dar uma tradução directa às palavras que acabámos de escrever; à força, e à expressividade que tentámos colocar neste aviso prévio. Porque a imagem vai fazer o que sempre faz: vai valer por mil palavras, e vai interferir, reforçando, ou dando outros sentidos - e eventualmente até pode distraír... - daquilo que se acabou de redigir.      

Propositadamente coloca-se uma página inteira - de Shakespeare, o teatro do mundo, de François Laroque, Quimera Editores, Lisboa, 2003 - e é o personagem a usar um livro como escudo, que agora nos interessa. É uma metáfora? Um sentido figurado? Claro que é. Por isso, não podemos ter apenas em mente, a tradução directa, redutora, e minimizadora, das imagens que vemos... Essas imagens são - e portanto foram integradas nas obras - muito mais do que uma tradução directa.

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 *Para muitos essa segurança, ou valor, pode vir apenas (e também - dá jeito) do «vil metal». 


28
Nov 10
publicado por primaluce, às 19:28link do post | comentar

Na linguagem corrente diz-se que é preciso ter bases bem consolidadas para se poder progredir na aquisição de novos conhecimentos.

Eduardo Marçal Grilo é autor de uma obra recente – que não lemos – mas cujo título é bastante esclarecedor: Se Não Estudas, Estás Tramado.

Desde 2002, 2004, 2005, com os novos conhecimentos, adquiridos ao fazer Monserrate - uma nova história, pudemos compreender alguns dos equívocos (históricos) em que estamos mergulhados. Assim como, também pudemos alargar, espantosamente, as nossas bases.

O que deixámos ao longo desse trabalho, incluindo a Introdução e a Síntese Final, constituem o que passámos a pensar: os novos conhecimentos que adquirimos, e a base do muito mais, que, de então para cá, continuámos a adquirir.

Hoje é um facto assente (de acordo com a Convenção de Bolonha) que o curso de arquitectura corresponde a um mestrado integrado. Portanto, ao duplicar as nossas habilitações, não caímos propriamente num erro, e perca de tempo. Pelo contrário, adquirimos a maior das vantagens: saímos da Faculdade de Letras com um trabalho que é muito mais do que inovador – quase revolucionário – sobretudo nas conclusões que pudemos retirar; as quais ficaram assim avalizadas.

Não se trata de uma mera opinião pessoal, são conhecimentos novos, que, nalguns casos, estavam esquecidos desde há séculos. Como sucede com a origem da palavra Gótico, e a explicação que damos, para, vários séculos depois de ter existido um Símbolo da Fé (e um sinal) Gótico, o mesmo ter dado origem a um Estilo Arquitectónico, ao qual a palavra «se colou»: sem que, nunca mais, outra designação a tivesse conseguido substituir*.    

São muitos os conhecimentos novos – que não se impõem – mas que, pela sua lógica (evidente), com o passar do tempo recebem a adesão de todos os que querem progredir no Saber. E a construção desse Saber é uma Arquitectura, como são também muitos, e sucessivos, os degraus duma realidade muito abstracta - a progressão no conhecimento - que é por isso comparada ao subir de uma escada...**

Assim, compreender o Património, arquitectónico, cultural, e entender o que podem ser hoje as vias de um futuro que se deve tentar desenhar (ou inventar), é algo que nos ajudará, a todos. Porque está tudo ligado, como por exemplo o Saber esteve todo unido, há vários (muitos) séculos atrás. As respostas e as soluções que se impõem (num país que parece deixar-se morrer…), não hão-de provir só de um lado: Economia, Finanças, ou até as Engenharias,  visto que a componente cultural, o Saber e o Conhecimento – inclusive da História – irão ser essenciais, para cruzar com outros Saberes, e ajudar a definir o futuro.

A imagem que escolhemos é um excerto do retrato da família do Duque de Milão – Ludovico Sforza (1452-1508) – que ficou como Il Moro. Aconselhamos a que reparem, e comparem, as argolas que estão no túmulo de Egas Moniz (no nosso trabalho ver fig. 91), com o colar que está na imagem acima, colocado ao pescoço de Ludovico Sforza. É exactamente a mesma iconografia, embora tratada de formas diferentes. Em ambos os casos deu-se «a ver» a Ideia essencial do Símbolo Gótico, acima referido. O qual, quer Egas Moniz (o Aio de Afonso Henriques), quer o Duque de Milão – sem dúvida – ambos tiveram que seguir: tratava-se de uma questão essencial da Fé Cristã, que professavam (apesar de terem vivido na Europa, em lugares e em datas muito diferentes).

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* É sabido, como referimos no nosso estudo, que tentaram dar-lhe a designação «ogival».Ver Monserrate, uma nova história, op. cit., pp. 44 e 167, nota nº 94. 

** Expressões empregues por autores do século XII, e também por alguns que os estudaram, como os teólogos M.-D. Chenu, e Henri De Lubac. 

Ler Sinopse de – Se Não Estudas, Estás Tramado – em: http://www.wook.pt/ficha/se-nao-estudas-estas-tramado/a/id/6185370


28
Out 10
publicado por primaluce, às 13:49link do post | comentar

A Mandorla, sinal visual por excelência, que ficou associada a uma ideia fundamental da Teologia Cristã, e que aparece nos portais românico-góticos; assim como esteve depois, na origem do Arco Quebrado, encontra-se - com grande frequência - associada a diferentes tipos de vãos. Na imagem seguinte, nos elementos de uma grade de ferro, na guarda de uma varanda, na Foz Velha, Porto.


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