Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Jun 17
publicado por primaluce, às 11:00link do post | comentar

Claro que é com maiúsculas que nos devemos referir a trabalhos que admiramos, e que além de terem a maior qualidade, têm também a maior honestidade*

 

Dos dois posts anteriores (ver 1º post  e ver 2º post) dedicado à Tese de Doutoramento da Cristina Pinheiro sobraram-nos várias notas que fomos escrevendo à margem.

Mas essas notas - que vão estar a seguir - têm talvez mais a ver com o nosso trabalho do que com o dela? Claro que foram suscitadas por aquilo que (foi ela que) escreveu e deixou registado no seu estudo. Mas o facto é que são, inteiramente, da minha lavra. Pois representam, em duas situações mais específicas, uma reacção (minha) a esse mesmo estudo.

Como se pode ver (aqui) as notas com as referências - * e * surgiram então muito mais resumidas e a remeterem simplesmente para um terceiro post que seria escrito mais tarde.

É hoje, e a sua redacção mais completa é a que se segue:

 

Nota 3 (*3):

Concretamente a questão da leitura, que segundo é explicado se faz com avanços por “sacadas”. Isto é, como depreendemos, por «sacadas visuais», como na fig. (proveniente do trabalho)

 

mov.png

E aqui, este assunto talvez um dia justifique que voltemos ao trabalho (?), para melhor conhecer este capítulo, na medida em que a maioria das obras que nos interessam (arquitectura, escultura, ourivesaria), estão repletas de ideogramas feitos para serem lidos. Embora se possa perceber que os referidos sinais ao serem esmagados e deformados, seria portanto mais difícil poderem ser lidos (ou até identificados, visualmente) como sendo sinais equivalentes - porém mudos, porque tradutores de ideias e não de sons - aos caracteres alfabéticos das páginas de um livro.

Por exemplo das Bíblias e Evangiliários, já que era a esses livros (ou Códices) que muitas vezes uma parede inteira de uma igreja (o seu alçado), ou até o alçado de um Portal, se queriam assemelhar. 

Depois, também a respectiva distribuição destas imagens pela superfície de suporte, e em definitivo, na feitura da composição final (a que se forma na retina do observador); essa composição deveria obedecer a 2 tipos de preocupações (principais): 1ª - a de integrar na composição da imagem final, em simultâneo, vários desenhos de ideogramas diferentes;

2ª - a de criar harmonia formal/visual entre essas «imagens abstractas», que foram articuladas; ou seja, de modo a estas responderem, conjuntamente, àquilo que hoje se considera ser o Gosto - o que é de ordem mais afectiva, e que tem também a ver com o hábito da presença de certos elementos. Acrescido ainda do sentido significante (em geral interessante e rico, ou um gosto mais intelectual e conhecedor), que a composição como somatório/junção dessas diferentes imagens (ou ideogramas) assim adquiriu.    

«Imagens abstractas», que, entenda-se, eram como um equivalente dos caracteres alfabéticos. Os quais um dia, talvez no tempo dos Fenícios, ou ainda muito antes (?), podem ter sido pictogramas, vindos de escritas hieroglíficas. «Imagens» que agora/hoje, automaticamente (e sem questionamento) as vemos apenas como caracteres que reconstituem os sons, correspondentes à leitura dos fonemas constituintes das palavras.

Dizemos nós (tudo isto), ao mesmo tempo que ainda se chama a atenção, com a máxima ênfase, para o emprego que foi feito (pela Cristina Pinheiro, no seu texto) da palavra esquematizar! E isto porque nem sempre usamos a referida “capacidade altamente desenvolvida…”, para esquematizar (pois pode não ser necessário).

Mas, note-se, sim estamos de acordo que essa capacidade é “altamente desenvolvida”, e que a leitura é uma técnica (aprendida pelas crianças, «quase sem esforço»). Técnica ou habilidade em que não são precisos outros acessórios extra (a não ser o livro, ou a página suporte do texto).

Embora, note-se, nem sempre os textos pensados por quem os escreveu, ou lidos pelo leitor, correspondam, forçosamente, a ideias esquematizadas: i. e., não têm que ser o equivalente a um “esquematizar o mundo.

Nota 4 (*4):

Porque, há que lembrar, nem todos os textos, ou o que pensamos, dizemos e escrevemos, são esquemas. Por exemplo, é mais fácil um recado posto por escrito (e aqui entenda-se registado graficamente) ser um esquema, do que uma carta de amor poder ser um esquema. Já por exemplo a descrição de uma paisagem pode querer remeter o leitor para o lugar de quem a descreveu: Norte/Sul, superior, altaneiro. Verde, luminoso, azul..., lá em baixo o rio…, etc. Podendo isto ser esquemático (ou não), numa vontade de o seu autor pretender, e conseguir, convocar as visões por si já percepcionadas. [Ou até mesmo nunca sentidas, mas que as ficciona e imagina, e assim as quer transmitir a outros...!]

Acresce ainda que quem descreve pode usar palavras iconicamente poderosas, capazes de reconstituírem, imediatamente, na cabeça de cada leitor ou ouvinte, as representações visuais, concretas, que os olhos poderiam vislumbrar...

Resta porém acrescentar algo bastante diferente: nos textos escritos, quando há necessidade de introduzir conceitos ou ideias que são complexas, podem ser usados símbolos, ou caracteres (diacríticos) que não sendo acentos, são como sinais «simplificadores da comunicação». Já que saindo do texto alfabético, e dos caracteres que correspondem a sons, estes funcionam como imagens de tradução muito directa: i. e., porque têm uma muito menor mediação (a que normalmente é bastante codificada), entre a imagem e o seu significado, que é percebido quase automaticamente.

São estes mesmos, o tipo de sinais que se vêem, frequentemente, no que se designam dataflow diagrams. Eles funcionam sobretudo como canais (ou apoios?) do Pensamento Visual. Sendo exemplo do que se está a querer explicar as seguintes imagens: =, +, ≥, ˄, ᴖ ,  ͡   ,  ⃝, †, { :

I. e., tratam-se de imagens que sendo sinais da escrita, não correspondendo a sons, mas correspondem a ideias (ou a movimentos e fluxos, dos dataflow diagrams). São sinais que, alguns deles, muitas vezes estão na arquitectura (antiga e tradicional). Ou ainda, frequentemente, surgem nos textos aplicados a par de setas com diferentes sentidos [ ↕].

Um uso ou aplicação que pode ter como objectivo levar o leitor – conduzindo-o, tal e qual como na estrada fazem os sinais de trânsito automóvel (que em cada ponto estão associados a essa mesma estrada, e aos seus pontos críticos) - para sair das linhas horizontais da escrita, e assim sair também da normal sequência dos textos...

Esta questão é toda ela razoavelmente complicada de tratar (e de a exprimir), já que a maior parte das vezes não conseguimos reflectir, parando e reparando, no que são actos, que enfrentamos e resolvemos, de modos, verdadeiramente automáticos.

E aqui, repare-se, é ainda um aprofundamento da ideia que está contida na frase "esquematizar o mundo". Porque - e estamos de acordo com o emprego da palavra esquematizar -, o cerne da transmissão de ideias, seja só por imagens ou só por textos (ou mesmo combinada), é uma das operações intelectuais mais incrivelmente complexas, e a que, normalmente, é dada muito pouca atenção, inclusive nas escolas que se dizem ser, entre outras características ou especializações, de Comunicação Visual.

Insiste-se, referimo-nos ao cerne desse processo de transmissão, que é, habitualmente, um acto irreflectido e automático. Mas... Felizmente! Já que é aliás para isso que se vai à escola...

Só que este é um assunto que nos poderia/pode levar muito longe, longíssimo! Como por exemplo fez A.Noam Chomsky, autor de várias «criações intelectuais e científicas», como é a Generative Grammar; ou ainda à que (no meu Oxford Dictionary of Philosophy, p. 204) é assim designada: "...Chomskyan notion of an innate universal grammar..." ]  

Por fim (já que esse assunto é imenso...!) queremos dizer:

Note-se que apesar destas notas e do desenvolvimento possível que vemos em questões que não constam no trabalho (da Cristina Pinheiro), isto não são críticas, e em nada se diminui o trabalho!

Pelo contrário, tornam-no mais transversal e interdisciplinar: por interessar a diferentes áreas de especialização científica, que se encontram nas suas fronteiras (temáticas). Permitindo que existam no futuro – e como a autora expressou esse desejo no último capítulo do estudo -, novos avanços interessantes e importantes, em várias áreas do Design.    

Por isso, e a terminar voltamos ao que já se escreveu:

Poder encontrar tudo isto reunido e desenvolvido num único trabalho é da maior utilidade! Tratando-se do estudo de uma antiga aluna é um imenso prazer!

~~~~~~~~~~~~~~~~

*Porque é coisa que não anda a abundar, e por isso ainda havemos de escrever bastante mais sobre o tema da honestidade, e o que, de repente - Oh surpresa! - , pode vir a sair de «debaixo do tapete»


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