Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Dez 10
publicado por primaluce, às 09:06link do post | comentar

Há dias escrevemos aquilo que já ouvimos, várias vezes, meio piada, meio desafio, sobre a maneira de ser dos arquitectos.

Na verdade, muitos sabem que é preciso ter uma boa dose de inspiração, para, num dia e num determinado momento, conseguir dar a volta a tudo o que se analisou e recolheu: qual colecção de formas, de temas, e de exigências funcionais, que é necessário conseguir reunir, de tal forma que concretizem a obra que alguém sonhou e encomendou.

São os elementos de uma ou várias listas, que, de um modo muito analítico - e com cada parte a ter que ser muito bem estudada per si - que, finalmente, são juntos de uma maneira articulada. 

Muitos sabem - e nós sabemos que eles sabem, e respeitam - a tal «inspiração». Aquela ideia que surge, exactamente, quando se tinha decidido abrandar o ritmo, e largar tudo. Para que, com mais calma, e uma capacidade de trabalho renovada, se pudesse então, tentar de novo, e pouco a pouco fazer a junção sintagmática que se impõe: a de tudo o que se tinha vindo a reunir. Mas, muitas vezes a "black box" troca-nos as voltas, e a inspiração começa então a surgir, quando não era esperada.

De qualquer modo, e voltando à necessidade de fazer a junção, ela impõe-se porque é ganha-pão, porque há pressa, e cada vez menos há a vida toda para produzir uma obra. Ou, as várias obras que é necessário ir fazendo ao longo dessa mesma vida!

Se alguns dizem que a capacidade de juntar da maneira certa, da forma que é admirada e agrada a quase todos; enfim, onde houve arte, habilidade e técnica*- se dizem que é 99% de transpiração e 1% de inspiração - esses sabem reconhecer a importância do estudo, e da recolha analítica de dados e informações. 

Esses têm a certeza de que a Síntese não é nunca um acaso, vindo do nada; ou do ficar à espera que a inspiração surja! Esses sabem que qualquer ideia, a primeira que aparece, pode ainda não ser a melhor solução, uma síntese final (definitiva). Ou, a resposta que o criativo tem em mente, para o problema que foi colocado: mas, pode ser um bom ínicio...    

Por isso perguntamo-nos, porque terá Bruegel-o-Velho estudado e imaginado uma primeira Torre de Babel? E porque é que fez a segunda? Sendo as duas do mesmo ano - 1563 - com uma a ter o dobro do tamanho da outra, qual a razão para ter havido esta sequência? 

 

Uma está em Viena (a que apresentámos há dias), ver em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Kunsthistorisches_Museum 

A outra, que se apresenta agora, está em Roterdão, e é a menor. Terá sido esta a primeira?

Perguntamos, embora já saibamos a resposta: é que ao contrário daquilo que é normal, quando há séries e sequências, geralmente há um desejo de aperfeiçoar e de ir mais longe. O que pode levar a recriar a mesma obra com mais detalhe, com maiores dimensões, e, sobretudo, com novos enfoques, que na primeira versão não tinham sido integrados. Ora, contrariamente ao que nos parece mais lógico, e de acordo com o Oxford Dictionary of Christian Art, de Peter e Linda Murray, a obra de Roterdão, embora menor, terá sido a mais tardia. De facto, apercebemo-nos de algumas diferenças (iconográficas), que dão outros sentidos, seriam o suficiente para justificar uma recriação? Ficam as perguntas...

Ver site do Museu Boymans-van Beuningen, Roterdão: 

http://www.boijmans.nl/en/

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Sobre outros estudos analíticos, que levaram a outras sínteses, e a muitas sequências ou séries, as quais, em nossa opinião, são absolutamente admiráveis - e estamos a pensar, por exemplo, na obra de Guarino Guarini, concretamente sobre alguns exemplos do seu trabalho - escreveremos um destes dias. Trata-se aliás de matéria já abordada a propósito do Palácio de Monserrate, quando, definitivamente, nos apercebemos da grande questão que passou a fascinar-nos: A certeza de haver Ideogramas, na génese das várias formas estilísticas.

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* Nem sempre é dada a atenção necessária às palavras que se empregam, e, geralmente, Arte e Técnica são vistas como tendo sentidos opostos. Porém, ambas estão perto da noção de habilidade, tomada aqui no sentido de servir para criar a «junção perfeita». Acontece que Ars é a palavra latina; e Technê, é a sua correspondente (ou sinónima) de origem grega. Em suma, se dermos mais atenção à Etimologia, talvez consigamos afinar/sintonizar melhor as nossas ideias.


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