Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Dez 10
publicado por primaluce, às 22:24link do post | comentar

No dia 27 de Outubro, apresentámos um excerto da Tapeçaria de Bayeux, e já nesse dia evidenciámos como os Escudos adquiriram uma forma em Amêndoa (correspondendo à designação mandorla - amêndoa em italiano). Haveremos de dar continuidade ao post de ontem, com algumas ideias e citações vindas de José Mattoso, que também abordou (um pouco, num caso muito específico), a questão "da  forma e da função" do Escudo, como instrumento para a defesa e protecção do corpo dos soldados.

Nos estudos que temos feito, apercebemo-nos o quanto é interessante notar - no caso da Arquitectura - a passagem de raciocínios aristotélicos a raciocínios platónicos: i. e., a passagem da realidade mais concreta, à sua abstracção, idealização e generalização. E, ou, vice-versa, porque isso também sucedeu.

Mas, para quem como nós não tem formação em Filosofia, ir buscar informações e bases para poder trabalhar, à partida não seria nada fácil.

Ora como se pode ver na bibliografia que deixámos em Monserrate, uma nova história, tivemos a sorte de um dia encontrar na livraria da Faculdade de Letras, uma obra preciosa, que não sei se tem correspondente em português, feita por autores portugueses? Referimo-nos a: Panorama des idées philosophiques - De Platon aux contemporains, da autoria de Jacqueline Russ.

Não vamos escrever sobre a autora, até porque na internet há bastante informação sobre esta Professora (com letra grande). E, inclusivamente encontrámos agora um curtíssimo documento (de apenas 27 pp) onde se sintetiza a Aventura do Pensamento Europeu*.

Tudo isto vem a propósito de mais um artigo de F. Alberoni, que explica a dificuldade actual, que a maioria tem, para conseguir fazer raciocínios complexos. O autor escreve, primeiro a propósito dos alunos do Ensino Superior. Depois recua, porque lhe parece que a dificuldade vem do Ensino Secundário, e, finalmente, apercebe-se que começa por ser em casa, e depois na Escola Primária, que há enormes lacunas. Uma total falta de disciplina, que, praticamente imparável, continua depois, até ao nível do Ensino Superior.

Sabemos disto - já escrevemos (embora muito pouco) sobre as "bases do Saber" - e também da incapacidade/dificuldade dos professores em se posicionarem face a comportamentos que têm que ser muito exigentes. Até porque, os actuais docentes, eles próprios, a maioria não adquiriu (a não ser por um esforço pessoal, já adultos) essa mesma disciplina, que, desde cedo, faz tanta falta aos alunos...**

Nos nossos estudos, e porque a Arquitectura conteve (na Idade Média, sem dúvida continha) uma certa materialização do Saber, temo-nos deparado, exactamente, com a questão da sua própria complexidade. Muitos não conseguem perceber, que, apesar das sucessivas mudanças históricas, desde a Antiguidade Tardia, à contemporaneidade, há sempre «fios condutores», e linhas sequenciais, que conseguimos ver - e percorrer, mostrando-os - apesar da imensa variabilidade e dos «cenários complexos», em permanente mudança, com que nos vamos deparando. Mas, pergunta-se:

É um problema, um defeito, ter percebido tudo isso? É um defeito conseguir ser transversal em vários temas e disciplinas? É preciso ser-se apenas, e rigorosamente, formatado, para escrever não mais do que 350 páginas; de altíssima especialização, exclusiva, e à maneira do "Processo de Bolonha"? Se a resposta a estas perguntas for Sim, congratulamo-nos - ironicamente, claro - com o admirável mundo que se está a criar!

O de «investigadores de microscópio», que, quando levantam os olhos, olham (será que vêem...?) a realidade que os envolve, e pouco sabem do mundo onde estão! Não sabem sequer, onde nasce ou se põe o Sol todos os dias...      

   A reflexão seguinte é para os nossos alunos:   

Como é que se pode aprender a projectar, quando é tanto aquilo que se tem que ter presente, em simultâneo, e em cada momento do acto de riscar, e de fazer esboços? Esboços que têm que integrar «um sem número» de intenções? Têm a percepção que uma grande variedade de temas, todos ao mesmo tempo, obrigam a uma grande auto-disciplina? Que obrigam a dividir o problema: a fazer programas, mapas e listas do conjunto de intenções que têm em mente, os quais o vº projecto tem que incluir, para depois a obra os concretizar? Têm a noção que é de tudo um pouco (interdisciplinaridade), que se «alimenta» um designer e um arquitecto: quer na formação, quer já depois nas suas actividades profissionais? Têm a noção que se vierem a ser bons profissionais, vão estar em equipas - integrados ou a coordenar... - com especialistas de outras áreas? Têm a noção que o mundo de hoje, e as nossas profissões, exigem isto: a capacidade de passar (apetece dizer voar) do geral para particular, com grande rapidez e à vontade? Como quem manipula uma «grande-angular», passando logo depois a usar a «tele-objectiva» da máquina fotográfica?

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* http://ampfigueiredo.com.sapo.pt/ficheiros/recensoes/2001/jacqueline-russ.pdf

ERRATA: na p. 10 deste texto onde está «crepúsculos», deveria estar «corpúsculos»

** Como escreveu Alberoni, "...resultado é que muitos não chegam a aprender a concentrar-se, a aplicar-se, a levar um raciocínio complexo até ao fim..."

Ver em http://www.ionline.pt/conteudo/92474-a-limitacao-oculta-das-criancas-falta-capacidade-se-concentrarem


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